O horário de verão – odiado por alguns, amado por outros – pode deixar de ser aplicado no Brasil. O Ministério de Minas e Energia e os órgãos do setor avaliam que a aplicação da medida, que aproveita a maior incidência solar do verão, já não faz mais sentido para economizar eletricidade. O que irá determinar se o horário de verão continua ou acaba será o costume e a cultura do brasileiro.
A mudança no perfil do consumo de energia dos brasileiros vem reduzindo a efetividade do horário de verão, avaliam os técnicos. Os quatro meses de duração da medida (outubro a fevereiro) geram pouca economia, de apenas 0,5% de todo o consumo elétrico do país.
Mudança no horário de pico
A aplicação do horário de verão resultava em maior economia no passado, quando mais pessoas tinham um horário de trabalho tradicional, chegando em casa no início da noite e ligando a iluminação e aparelhos elétricos em seus lares e criando um pico de demanda. Hoje, o uso de equipamentos de ar condicionado durante o dia (em especial nas tardes ensolaradas e quentes de verão) mudou a curva de consumo, colocando o pico no período da tarde.
“[Os órgãos governamentais] estão realizando um aprofundamento dos estudos em relação à efetividade do horário de verão para o sistema elétrico, tendo em vista as mudanças no perfil e na composição da carga que vem sendo observadas nos últimos anos. Esses estudos estão em andamento e servirão de base para os encaminhamentos futuros sobre a continuidade ou não da adoção do horário de verão”, informou o Ministério de Minas e Energia (MME), em nota.
Mesmo entre os técnicos do setor a medida tem defensores e críticos. Em março, quando foi apresentado o resultado de economia do horário de verão 2016/2017, o governo decidiu repensar a aplicação da medida. Os órgãos que participam do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) decidiram fazer uma pesquisa em outros países para saber se há evidências sobre a efetividade do horário de verão nesse novo perfil de consumo.
A consulta a outros 15 países trouxe um resultado interessante: na maioria deles, não há avaliação que justifique a efetividade do horário de verão do ponto de vista da economia de energia. Segundo ata da reunião do CMSE de maio, a consulta apontou que na maioria dos países a adoção da medida “está muito mais relacionada ao costume da população”.
Mais infartos
Apesar de não valer mais para a economia de energia, o horário de verão pode ser positivo para outros setores, como turismo e comércio, com uma hora a mais de luz do dia para as pessoas passearem e consumirem.
Mas há até quem diga que o horário de verão aumenta a incidência de infartos. A alteração abrupta no relógio biológico dos cidadão afetados pela medida eleva em até 8,5% a incidência de infartos, aponta estudo do professor Weily Toro Machado, da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), com o título Daylight Saving Time and incidence of Myocardial Infarction: Evidence from a regression discontinuity design, publicado na Revista Economics Letters em 2015.
Em diversos estados os governantes e deputados defendem o fim do horário de verão. Em Goiás, por exemplo, o fim da medida já foi objeto de projeto de lei estadual, encaminhado ao governo federal. Em outros estados, da região Norte e Nordeste onde não se adianta o relógio em uma hora durante o verão, há quem defenda o contrário. Os defensores da adoção da medida afirmam que a maior diferença de horário perante os estados do Sudeste atrapalha o cronograma de voos nos aeroportos e até mesmo a grade da programação de televisão.