O sobrepeso afeta a informação hereditária do esperma, o que pode explicar porque filhos de pais obesos são mais predispostos obesidade. A conclusão é de um estudo publicado nessa quinta, 3, na revista Cell Metabolism.

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O estudo, realizado por um grupo de cientistas sob a coordenação de Romain Barrès, da Universidade de Copenhague (Dinamarca), revelou que o esperma de homens obesos possui marcadores epigenéticos específicos em regiões do genoma associadas ao controle do apetite. Essas alterações não ocorrem no esperma de homens com peso normal.

Epigenética é a informação contida em parcelas do genoma que não fazem parte da sequência do DNA, mas que tem papel na regulação dos genes e é passível de ser herdada.

Os cientistas analisaram e compararam as informações epigenéticas obtidas no esperma de 13 homens dentro do peso e 10 homens obesos. Na segunda fase do estudo, eles acompanharam seis homens submetidos a cirurgias de redução de peso para descobrir se o procedimento afetaria as características do esperma.

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Uma média de 5 mil modificações estruturais no DNA de células do esperma foram observados antes da cirurgia, logo depois dela e um ano mais tarde. Segundo os autores, ainda será preciso realizar mais estudos sobre o significado dessas diferenças e sobre seus efeitos nos filhos. Mas o trabalho traz a primeira prova de que o esperma conduz informações sobre a saúde masculina.

“Nossa pesquisa poderia levar a uma mudança de comportamento, em especial no comportamento do pai antes da gravidez. O senso comum diz que quando uma mulher está grávida ela deve tomar cuidados – como não beber álcool e ficar longe de poluentes, por exemplo -, mas o nosso estudo mostra que essas recomendações deveriam ser seguidas por homens também”, declarou Barres.

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Para conceber o estudo, Barrès se inspirou em um trabalho de 2005, realizado com moradores de uma pequena vila na Suécia, que havia passado por um período de fome. A pesquisa mostrava como a disponibilidade de alimentos para essas pessoas se correlacionava com o desenvolvimento de doenças cardíacas e metabólicas em seus netos.

Segundo o estudo, o estresse nutricional dos avós provavelmente passou para as gerações seguintes por meio de marcadores epigenéticos, que têm a capacidade de controlar como os genes são expressos. O mesmo já havia sido demonstrado em roedores em insetos.

No novo estudo, a equipe de Barrès comparou marcadores epigenéticos específicos na ejaculação de homens com peso normal e com obesidade. Segundo os autores, o estudo teve foco em homens porque é bem mais fácil obter esperma que óvulos.

Nenhuma diferença foi notada nas proteínas que envolvem o DNA, mas houve variações em outras partes do genoma. A próxima questão seria descobrir se essas diferenças eram produto da obesidade ou do estilo de vida. Isso levou os cientistas a investigar como a cirurgia bariátrica afeta a epigenética do esperma. A conclusão foi que o peso é mesmo o fator determinante nas alterações.

Os cientistas especulam que provavelmente há razões evolutivas que expliquem porque o sobrepeso dos pais pode ser passado aos filhos. A hipótese de Barrès é que, em tempos de abundância, trata-se de uma maneira instintiva de incentivar os filhos a comerem mais.

“Foi apenas recentemente que a obesidade deixou de ser uma vantagem. Há poucas décadas, a capacidade de armazenar energia era uma vantagem para resistir a infecções e períodos de fome”, explicou Barrès.