Homenagem a bicheiros denunciada ao MP do Rio

Rio – O Ministério Público do RJ irá investigar as homenagens que as escolas de samba Salgueiro e Mocidade fizeram a bicheiros durante os desfiles na Sapucaí. A corregedoria do órgão irá apurar o fato de o promotor Marcelo Buhatem ter desfilado na Beija-Flor, cujo presidente de honra, Aniz Abrahão David, o Anísio, já foi preso por contravenção. Buhatem teria usado uma camisa de diretor da agremiação.

Os casos de homenagem a bicheiros pelas escolas de samba Salgueiro e Mocidade foram levados ontem pelo deputado federal Antônio Carlos Biscaia (PT) ao procurador geral de Justiça, Marfan Vieira, que os encaminhou para averiguação. O promotor Márcio Nobre, da 1.ª Central de Inquéritos, irá investigar as homenagens. Para Biscaia, ficou configurado o delito de apologia ao crime.

No Salgueiro, integrantes desfilaram com camisas com fotos de Waldomiro Garcia, o Miro, e de seu filho Waldemir Paes Garcia, o Maninho. Ambos eram dirigentes da escola, haviam sido condenados pela Justiça e morreram no ano passado. Um carro alegórico mostrou ainda imagens dos dois num telão.

O presidente do Salgueiro, Luiz Augusto Duran, informou que não teve a intenção de ofender ninguém e que a homenagem foi autorizada previamente pela Liga das Escolas de Samba (Liesa). Ele se disse surpreso com a atitude do deputado Biscaia.

O presidente da Mocidade, Paulo Vianna, informou que apenas agradeceu a César Andrade pela contribuição de R$ 700 mil que ele deu para a realização do desfile, assim como fez com a patrocinadora, a empresa italiana Tim, e a Liga. "Não foi homenagem, apenas agradeci a quem me ajudou", contou. "Fizeram uma tempestade à toa. O Biscaia quer aparecer." Condenado a 9 anos de prisão por corrupção ativa, César Andrade, que é sobrinho do bicheiro Castor de Andrade, já falecido, está foragido.

O procurador-geral não quis fazer comentários sobre as investigações. "Não compete a mim fazer análise de mérito". Quanto à participação do promotor na apresentação da Beija-Flor, ele considera que se Buhatem tiver apenas acompanhado a escola, não há problema. "Se ele estiver envolvido com a diretoria, aí sim. A lei orgânica do MP diz que a conduta do promotor deve ser compatível com a dignidade de suas funções", disse Marfan Vieira.

O promotor Buhatem, que atualmente exerce a função de assessor parlamentar no MP, se defendeu: "Não desfilei com camisa de diretor. Era uma camiseta, dessas que se compra em loja. Quero que ele (Biscaia) prove". Ele está se sentindo patrulhado. "Isso parece patrulhamento cultural. Todo mundo sabe que várias autoridades visitam as escolas de samba. Saí como folião."

Para o deputado Biscaia, que já foi procurador-geral de Justiça, é preciso acabar com a tolerância ao jogo do bicho. "Eles (bicheiros) andavam recolhidos, mas agora estão reaparecendo", afirmou, citando que, no Carnaval de São Paulo, a Império da Casa Verde, escola campeã, também enalteceu um bicheiro. "Alguns aceitam o jogo do bicho. Eu não aceito." A Liga informou que não há nada que impeça referências como as que foram feitas.

Jurados justificam notas do Carnaval

Rio – A cada ano, o resultado das disputas do Carnaval mostra que nem sempre as escolas que sacodem as arquibancadas na avenida são as que mais cativam os jurados. Entre a expectativa de dirigentes e componentes e as notas lançadas nos formulários estão critérios técnicos e subjetivos que podem fazer uma escola campeã com a diferença de apenas um décimo sobre a segunda colocada, como aconteceu este ano com a Beija-Flor de Nilópolis que obteve 399,4 e Unidos da Tijuca, com 399,3." O povo julga com emoção e os jurados julgam a técnica", diferencia o ator e diretor Otoniel Serra, julgador de evolução por 13 anos. Ele considera compreensível que o dia seguinte seja de muitas reclamações das diretorias das escolas. "Na verdade, julgamos paixões. O Carnaval é a vida dos sambistas". Não há pré-requisitos estabelecidos para se tornar um jurado do Carnaval carioca. Essa é uma atribuição exclusiva do presidente da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), Ailton Guimarães Jorge. De acordo com a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), "o critério é estritamente pessoal" e todos são convidados pessoalmente pelo presidente. A maioria é de artistas plásticos, jornalistas e pessoas ligadas ao mundo do samba. Eles recebem orientações sobre os critérios de julgamento em reuniões antes do Carnaval. Pelos dois dias de desfile, recebem uma remuneração de cerca de R$ 1.500 e têm nas cabines um bufê até com café da manhã, mas nada de bebidas alcoólicas. Paulo Barros, o festejado carnavalesco da vice-campeã Unidos da Tijuca, não fala sobre os jurados. Ele acredita que ter mais critérios para selecioná-los e orientá-los é uma tarefa que só diz respeito à Liga. Mesmo ficando com o vice-campeonato pelo segundo ano consecutivo, ele não parece insatisfeito com as notas recebidas. "Estou muito feliz com a colocação. Temos que esperar a justificativa dos jurados para saber o que falhou", afirmou ontem. Já o líder da comissão de Carnaval da Beija-Flor, Laíla, é mais enfático: "Procuro sempre olhar a justificativa. Muitas não são condizentes com a nota. Se o jurado diz que está belo, maravilhoso, tem que dar dez, não 9.8", criticou.

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