O motorista Jonas Braga de Albuquerque, de 44 anos, acusado de matar a tiros Adriano Antonio dos Santos, de 28, durante uma briga de trânsito, em Botucatu, a 235 km de São Paulo, deve se apresentar amanhã à Polícia Civil. Ele está internado em um hospital da região desde o último domingo, quando se envolveu em um acidente de trânsito e, depois de ser agredido, foi buscar um revólver e atirou nos agressores. Adriano foi atingido por uma bala no peito e morreu. Seu irmão, menor de idade, que participou das agressões, escapou sem ferimentos.
Várias pessoas que presenciaram a briga telefonaram para a Polícia Militar e se desesperaram enquanto a viatura não chegava. Os áudios das ligações foram divulgados pela polícia e, em um deles, é possível ouvir o barulho dos disparos. O advogado que acompanhará o autor do crime ao 3º Distrito Policial vai alegar que ele agiu em legítima defesa. Os diálogos entre as testemunhas e o serviço de emergência da PM mostram que Jonas estava apanhando dos irmãos. Ele foi ferido na cabeça.
De acordo com a Polícia Civil, tudo começou quando o carro de Adriano perdeu o freio e bateu no veículo dirigido por Jonas, no Jardim Santa Maria 1, periferia da cidade. Ferido, Jonas tirou o filho de dois anos do carro e começou a discutir com o outro motorista. Um irmão de Adriano, que mora perto, correu até o local e os dois começaram a bater no homem. Mesmo com outros ferimentos causados pelas agressões, Jonas correu até sua casa, ali perto, arrombou a porta e pegou um revólver. Em seguida, descarregou a arma na direção dos dois irmãos. Adriano, que foi baleado, morreu antes de a viatura da PM chegar ao local.
O acidente de trânsito e a briga chamaram a atenção dos moradores do bairro. Pelo menos três pessoas ligaram para a central de emergência da PM pelo telefone 190. “Gostaria de fazer uma denúncia com urgência, senhora, com urgência. Acidente de trânsito e tem duas pessoas agredindo outro cara com madeira e pedaço de ferro”. Na sequência, aparece a ligação de outra testemunha: “Eu acabei de ligar aí, eles foram buscar bala para atirar no outro, meu Deus.” Em um novo telefonema, a pessoa chama a polícia e alerta para o desfecho fatal: “Tem de ser muito rápido, senão vai acontecer uma desgraça aqui.” Em nova ligação, a testemunha diz em tom dramático: “Escuta os tiros, a senhora está escutando os tiros?”. “Moça, pelo amor de Deus, está morto. Está dando tiro aqui, pelo amor de Deus!” A policial responde: “Senhora, a viatura está indo aí no Santa Maria 1, é só aguardar.” A mulher finaliza: “Já está morto, meu Deus do céu.”
O major da PM Marcelo Amaral disse que não houve demora da polícia no atendimento à ocorrência. “A primeira ligação dava conta de um acidente de trânsito sem vítima. Entre o primeiro telefonema informando sobre a briga e a chegada da viatura no local se passaram exatos três minutos. Para uma cidade como Botucatu, é um tempo aceitável.” Apesar da alegação de legítima defesa, Jonas deve ser indiciado por homicídio doloso – com intenção de matar – e, se for condenado, ficará sujeito a uma pena de até 30 anos de prisão. Caso se apresente, ele terá direito a responder o processo em liberdade por não ter antecedentes criminais.