O ex-mecânico Marcos Mariano da Silva, 63 anos, que passou 19 anos preso injustamente, morreu no início da noite de ontem (22), em sua casa, no bairro de Afogados, Recife, enquanto dormia. Ele teve um enfarte durante o sono, algumas horas depois de saber que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou recurso do governo de Pernambuco e determinou o pagamento da segunda parcela de uma indenização por danos materiais e morais. O valor total da indenização era de R$ 2 milhões. Ela já havia recebido metade em 2009.
Marcos Mariano já esperava a decisão do STJ, que lhe foi repassada, por telefone, pelo seu advogado José Afonso Bragança Borges, por volta das 15 horas. “Foi como se ele tivesse aguardado a corroboração da sua inocência para poder morrer em paz”, afirmou o advogado que acompanhou a sua “agonia e luta para provar ser um homem digno e honrado”.
O ex-mecânico foi preso acusado de homicídio, em 1972, e foi solto quando o verdadeiro culpado foi preso. Ele voltou a prisão em 1985 – como foragido – depois de ter sido reconhecido por um policial, durante uma blitz, quando dirigia um caminhão.
Marcos Mariano penou mais 13 anos no cárcere sem que ninguém desse crédito à sua história. Pegou tuberculose e ficou cego depois de atingido por estilhaços de uma bomba de gás lacrimogêneo jogada pelo batalhão de choque da Polícia Militar durante uma rebelião no Presídio Aníbal Bruno. Um mutirão judiciário reconheceu a injustiça e ele voltou a viver em liberdade em 1998, quando entrou com a ação judicial contra o governo estadual.
Desde então, diante da consternação da opinião pública, ele passou a receber uma pensão mensal de R$ 1 mil do governo estadual que foi suspensa quando, em 2009, recebeu a primeira parcela da indenização. Marcos Mariano comprou uma casa, ajudou a família e passou a ter uma vida digna. Mas já não tinha alegria de viver, segundo o advogado, que se transformou em amigo: “Ele me dizia que vivia em um cárcere escuro e daria tudo para enxergar novamente”.
Abandonado pela mulher e 11 filhos depois de ser preso pela segunda vez, Marcos Mariano conheceu Lúcia, que acompanhava a mulher de um companheiro de cela nas visitas, e se casou com ela. Seu corpo, velado no cemitério de Santo Amaro, foi enterrado hoje à tarde.