A ideia foi repentina. Há três anos e meio, o anestesista Marco Ribeiro, de 52 anos, decidiu que seria pai. O fato de estar solteiro não o impediu de iniciar uma saga que incluiu tentativas fora do País, a perda de um bebê, a contratação de uma barriga de aluguel e a necessidade de parar a carreira para cuidar de gêmeos que nasceram prematuros.

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“Até os 40 anos, queria ter liberdade. Gostava de festas, de viajar e de diversão. Após os 40, despertou em mim uma vontade de ter uma família minha, ter filhos, ter um foco além de mim mesmo. Pela internet, fui ver onde o homem solteiro poderia ter um filho e, na época, não queria pagar muito.”

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O primeiro local consultado foi a Índia. “Fui surpreendido porque tinha acabado de mudar a legislação e não podia homem solteiro e gay. Depois, tentei a Ucrânia. Vi o contrato e tinha de dar um sinal de ¤ 7 mil. Iam encontrar a doadora e eu faria a fertilização, mas também teve uma mudança de legislação e proibiram que homossexuais fizessem o procedimento.”

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Ribeiro conta que não pensou em adotar uma criança e, com a regra do Conselho Federal de Medicina (CFM), que deixou claro em 2013 que pessoas solteiras poderiam fazer a fertilização em um útero de substituição, contanto que não houvesse pagamento (a barriga de aluguel não é permitida) e que a mulher fizesse parte da família, decidiu que faria uma tentativa.

“Consegui uma sobrinha que se submeteria a isso. Como estava muito ansioso e tudo estava complicado, ao mesmo tempo fui atrás de uma agência que faz esse tipo de processo (barriga de aluguel) nos Estados Unidos.” Ribeiro assinou um contrato, começou a pagar pelo procedimento, fez exames e teve o sêmen congelado. Alguns meses depois, também escolheu a doadora dos óvulos. A sobrinha dele chegou a engravidar e tudo corria bem até o terceiro mês, quando ela sofreu um aborto espontâneo. Mas, nos Estados Unidos, sete embriões se formaram por meio da inseminação artificial. Eram quatro masculinos e três femininos. “Voltei para conhecer a barriga de aluguel e o marido dela. Pedi um masculino e um feminino e ela ficou grávida de gêmeos. A gravidez correu bem até o sexto mês, quando ela entrou em trabalho de parto.”

O anestesista precisou viajar para acompanhar a recuperação das crianças, que ficaram por dois meses na UTI. Ele conseguiu uma licença equivalente à licença-maternidade, mas precisou ficar dois anos na Flórida para acompanhar os tratamentos ao quais as crianças foram submetidas.

Afastado do trabalho, fora do País e com um casal de recém-nascidos, Ribeiro teve de superar a depressão. Em agosto deste ano, voltou para São Paulo. Agora, conseguiu retomar a vida. “É um caminho bem mais complicado do que eu imaginei. Hoje, valorizo muito mais a figura materna do que antes. Tem estresse e privação de liberdade, mas eu faria de novo. Tenho uma família e isso é para sempre”, afirma.

O anestesista continua solteiro, mas diz que sua prioridade são os filhos. “Para trazer alguém para o meu mundo, preciso ter confiança. O filho vem antes do relacionamento.”

Ginecologista responsável pela reprodução humana da clínica Criogênesis, Renato de Oliveira diz que são raros os casos de homens que querem fazer uma produção independente, mas que isso pode se tornar uma tendência. “A minha percepção é de que isso tende a aumentar, pois cada vez mais as pessoas vivem sozinhas. É incomum um homem ter um filho sozinho. Quem quer fazer isso tem a vontade de se perpetuar por meio do filho, de transmitir os genes para a próxima geração.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.