São Paulo – Quase três meses após tomar posse na Prefeitura, o tucano José Serra ainda tenta imprimir a sua marca na cidade de São Paulo. Assessores mais próximos justificam a ausência da propagada marca tucana na capital pelo alto grau de desorganização das finanças e do endividamento de mais de R$ 2 bilhões herdados da antecessora Marta Suplicy (PT), segundo dados da equipe de Serra. A equipe da ex-prefeita, no entanto, refuta esses dados e alega que a administração petista deixou, inclusive, dinheiro em caixa.
No entanto, os problemas financeiros não são obstáculos para que Serra marque presença no cenário nacional, através da participação ativa nas articulações políticas de seu partido e na abertura de sua agenda para temas e personalidades de outros estados. "As articulações do partido, inclusive em nível nacional, passam pelo Serra, que hoje é uma referência nacional de nosso partido", atesta o vereador e líder do governo na Câmara, José Aníbal (PSDB).
O líder tucano na Câmara Municipal afirma também que a dívida detectada pela equipe do prefeito Serra "assustou a todos". De acordo com Aníbal, como Serra é um administrador muito exigente e rigoroso, optou primeiro por colocar ordem na casa antes de partir para a execução de suas principais bandeiras. E nesse trabalho, o prefeito vem reafirmando uma de suas características mais marcantes, a centralização administrativa. "Ele controla absolutamente tudo, quer informações até dos buracos nas ruas e cobra resultados diários de sua equipe", relata um de seus colaboradores.
Na estratégia de colocar primeiro a casa em ordem, Serra vem realizando neste início de administração verdadeiros mutirões para combater problemas emergenciais. A área das subprefeituras, comandada por Walter Feldman, tem sido neste início de administração um dos principais centros de atenção do prefeito. Para driblar a falta de recursos financeiros, a administração tucana tem buscado soluções criativas. Uma das mais recentes foi a parceria com 20 cooperativas de táxi, que reúnem perto de cinco mil taxistas. O acordo criou um canal de comunicação no qual os taxistas vão ajudar na supervisão de falhas no asfalto, agilizando assim o trabalho dos tapa-buracos. Em contrapartida, a Prefeitura deve oferecer a esses motoristas, em breve, informações relativas ao trânsito e à previsão do tempo.
Obsessão
Para o cientista político da PUC e FGV-SP Fernando Abrucio, o estilo centralizador e a obsessão pelos resultados podem ser uma vantagem para Serra. "Como ele é calculista e pragmático, com certeza utilizará essas características para construir uma imagem de prefeito exigente e obsessivo pelo trabalho, de administrador capaz de resolver os problemas da cidade com o esforço do seu trabalho", avalia. Abrucio lembra que apesar de ter feito um governo bem avaliado pelos paulistanos, a ex-prefeita Marta Suplicy não conseguiu criar uma imagem de empatia, principalmente com os eleitores de centro-direita. "Serra tem espaço para isso", complementa.
Apesar de ostentar a condição de adversário tucano mais forte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições gerais de 2006, Serra garante a interlocutores próximos que o seu compromisso nos próximos quatro anos é com a cidade de São Paulo. Uma fonte do PSDB próxima ao prefeito diz que um sinal disso é o fato de o prefeito estar adotando um tom ameno nas críticas ao governo Lula. "Se ele polarizar com o presidente, vão dizer que é candidato no ano que vem", destaca o político, complementando que o candidato natural do partido é o governador Geraldo Alckmin.
A mesma fonte também descarta rumores de que as relações entre Alckmin e Serra andam um pouco estremecidas: "Isso é boato, o Serra continua sendo um dos grandes apoiadores do nome de Alckmin para a disputa à Presidência".
De acordo com fontes ligadas à área administrativa, a razão da não-polarização do prefeito José Serra com Lula também tem um outro motivo, que é resultado das negociações em curso com o governo federal para resolver o imbróglio da dívida do município com a União. No início deste mês, o prefeito foi a Brasília para apresentar ao governo Lula alternativas que possibilitem aos municípios equacionar seus débitos, sem ferir a Lei de Responsabilidade Fiscal, tais como a mudança no indexador e a equiparação do limite de endividamento dos municípios com o dos estados. Apesar desse acordo, Serra não faz questão de esconder a difícil situação que herdou da antecessora, a petista Marta Suplicy, principalmente na área das subprefeituras, que em discurso recente ele chegou a comparar aos tempos de Al Capone.
Prefeito personifica o anti-Lula
São Paulo – Na avaliação da consultora de pesquisas eleitorais Fátima Pacheco Jordão, "a expressiva vitória que José Serra obteve na capital o recoloca em uma posição favorável em qualquer jogo ou disputa política?. Para ela, o prefeito capitaliza a condição de candidato mais forte entre os tucanos porque seu nome ainda permanece na visão de boa parte do eleitorado como uma espécie de anti-Lula ou de anti-PT. Fátima adverte, porém, que o eleitor não vê com simpatia os políticos que se credenciam para um cargo e deixam o mandato antes do término para disputar um outro posto.
A mesma opinião é partilhada pelo cientista político e pesquisador da PUC e da FGV-SP Marco Antônio Carvalho Teixeira. Ele diz que mesmo tendo um nome de projeção nacional, uma eventual saída do cargo poderia significar um grande desgaste político para José Serra. O cientista lembra o episódio que envolveu o atual ministro da Educação, Tarso Genro (PT), que era prefeito de Porto Alegre e deixou o mandato antes do término para disputar o governo do Rio Grande do Sul na condição de um dos favoritos. O resultado do embate foi a derrota que amargou para o peemedebista Germano Rigotto.
Os cientistas políticos e a consultora de pesquisas eleitorais concordam que Serra é hoje um dos principais nomes do tucanato nacional e que as decisões desse partido passam pelo seu crivo. Eles avaliam, ainda, que o nome do prefeito é realmente o mais forte para um embate com Lula em 2006, porém, acreditam que por ser pragmático e minucioso, Serra deverá mesmo se concentrar na administração da maior cidade do País para se credenciar a cargos mais altos nas eleições gerais de 2010. "Ele é um bom estrategista, já tem uma imagem nacional consolidada e sabe que apesar dessas dificuldades iniciais, São Paulo pode ser uma boa vitrine para seu futuro político", destaca Fernando Abrucio, cientista político da PUC e FGV-SP.