Um dia após uma operação na região da cracolândia terminar com dois moradores de rua feridos por estilhaços de bala, o prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) disse que a ação foi “extremamente bem-sucedida” e “terminou como planejada”. “Não podemos negar que houve um incidente. Agora, a operação em si foi um sucesso. As barracas estão desmontadas e os traficantes, afastados. Os objetivos foram 100% conquistados. Manter é o nosso desafio”, afirmou. Para garantir que as barracas não voltem a ser erguidas, Haddad defendeu a “presença ostensiva” da segurança pública no local, com o objetivo de intimidar o tráfico de drogas.

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O prefeito explicou que, a princípio, não havia solicitado o apoio da Polícia Militar para a operação desta quarta-feira, 29. “O apoio (da polícia) foi pedido quando soubemos que alguns membros daquela comunidade, provavelmente ligados ao tráfico, imporiam resistência. Me vi na obrigação de comunicar (ao secretário estadual de Segurança Pública, Alexandre de Moraes)”.

De acordo com Haddad, um policial à paisana estava com uma câmera na “favelinha”, gravando imagens, quando foi reconhecido por usuários de droga, que o teriam agredido. O policial, que estava armado, reagiu atirando no chão. Os tiros ricochetearam e feriram dois dependentes químicos. “Não cabe a nós ficar comentando a ação do policial. Isso está sendo apurado pela própria polícia. Foi um incidente que não estava no roteiro”, disse o prefeito.

Haddad apoiou a ação da Tropa de Choque na operação, afirmando que os policiais reagiram às tentativas de invasão de um posto policial e de um terreno público por parte dos dependentes químicos. “Depois do incidente (com o policial à paisana), lógico (que era necessária a Tropa). Houve uma reação. E eles (policiais) estavam de sobreaviso. Mas acho que o episódio foi controlado. Obviamente que ninguém deseja que alguém saia ferido de nada”.

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O prefeito disse que esteve na cracolândia na manhã desta quinta-feira, 30, e que havia entre 50 e 60 usuários de drogas, número positivo para a Prefeitura. “É um padrão muito parecido com o melhor momento do Programa De Braços Abertos, em junho do ano passado”.

Desde setembro do ano passado, cerca de 30 traficantes passaram a ocupar as barracas da “favelinha”, houve redução do efetivo policial na região e o tráfico de drogas retomou o território, disse Haddad. “Houve um risco de perder o controle da região, mas eu não ia admitir que perdurasse. Então montamos a operação em diálogo com a comunidade para retomar o espaço público e devolvê-lo para a cidade”.

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Guarda Civil

A Prefeitura de São Paulo vai novamente tentar impedir a montagem de barracos na cracolândia, no centro da cidade. Cerca de 250 agentes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) devem se fixar na região para não deixar que surjam novas “favelinhas”, como são conhecidas as tendas mantidas pelos dependentes químicos. Segundo a corporação, o aumento é de cerca de 50% do efetivo.

Para a Prefeitura, as barracas facilitam o tráfico de drogas e consequentemente diminuem a eficiência de ações sociais na cracolândia. Uma operação para retirar as tendas e fazer a limpeza do local, ocorrida na última quarta-feira, 29, terminou em confronto entre agentes de segurança e usuários de drogas.

Na manhã seguinte, dezenas de guardas civis ficaram a postos em ruas que circundam o “fluxo”, os pontos de venda e de consumo de drogas. Com a retirada dos barracos, cerca de 200 dependentes químicos, muitos deles idosos, passaram a se aglomerar na Alameda Dino Bueno, no trecho da Rua Helvétia à Alameda Glete. “Agora não vai passar ninguém! Até guarda vai ter de pagar pedágio”, gritava um senhor com a camisa desabotoada e uma enorme barba grisalha.

Apesar da presença reforçada da GCM, dezenas de pessoas perambulavam com cachimbos à mostra, usados para fumar crack, e o uso da droga era feito livremente nas ruas. “Mantenham distância de pelo menos um braço para os usuários e cuidado com a antena (ponta do cachimbo). Se pega no pescoço, mata”, alertavam os guardas aos jornalistas no local.

Mesmo proibidos, também era possível ver alguns carrinhos de supermercados sendo empurrados de uma lado para outro. Além de guardar pertences dos moradores da cracolândia, os equipamentos servem para esconder e transportar droga. Desde a operação, ao menos 23 caminhões carregados de barracas, carrinhos, pedaços de madeira e entulhos foram retirados da região.

“A ação de ontem (quarta-feira) foi de reorganização do espaço público e foi muito bem-sucedida, porque, afinal de contas, visava à retirada das barracas que eram usadas como esconderijos de drogas”, afirmou o inspetor Gilson Menezes, comandante-geral da GCM. “Estamos agora tentando evitar a permanência na via porque atrapalha o leito carroçável.”

Surpresa

Alexandre de Moraes esteve na cracolândia nesta quarta-feira e criticou a operação, afirmando que a pasta não havia sido informada por Haddad. “O que tinha sido acertado, em um primeiro momento, é que a Prefeitura faria o cadastramento e a inclusão, e nós montaríamos, em conjunto, uma operação para recolher as barracas e as lonas. Hoje (quarta-feira, 29), a Prefeitura começou a fazer a inclusão e antecipou essa segunda parte, e nós não fomos avisados.”

Haddad disse ter telefonado para o secretário, avisado sobre a desmontagem das barracas e descartado o apoio da segurança pública. Segundo o prefeito, a operação ocorreu após um acordo com os próprios usuários, que estava sendo negociado nas últimas três semanas. Diante do descumprimento do acordo pelos usuários, porém, a Prefeitura ligou para o secretário e solicitou o apoio da Polícia Militar, explicou Haddad.

“Ele (Alexandre) foi surpreendido, como eu, por parte da comunidade que impôs resistência. Depois que fomos ao local, aqueles mais renitentes voltaram atrás e reafirmaram o compromisso com o acordo”. O incidente com o policial teria ocorrido após a saída do prefeito e do secretário. “Tudo transcorria bem. Mas ninguém esperava que aquele incidente fosse acontecer”.