Um terreno particular entre o Shopping Center Plaza e a Estação Tamanduateí do Metrô, na Vila Prudente, zona leste de São Paulo, abriga desde quarta-feira, 16, uma nova ocupação de sem-teto: a Favela da Central. A invasão foi organizada pela União dos Movimentos de Moradia (UMM-SP), mas segue a estratégia adotada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), com barracas erguidas em madeira e cobertas por lonas de plástico.
Assim como aconteceu nas recentes ocupações promovidas pelo MTST, a Favela da Central é formada por moradores vizinhos. Nesse caso, são famílias da Favela Vila Prudente, que fica às margens da Avenida do Estado, quase na divisa com São Caetano do Sul. A Secretaria da Habitação estimava, no primeiro semestre, que havia 90 terrenos ou prédios ocupados por cerca de 4 mil famílias em toda a cidade.
“Chegou a hora de darmos o grito de alerta. Esta região é carente de projeto habitacional – os terrenos ao redor foram destinados a construtoras. O adensamento habitacional nas favelas está muito grande e os aluguéis, caríssimos”, disse André Delfino da Silva, morador da favela e representante do UMM.
Silva afirmou que a ocupação do terreno, que segundo ele está ocioso há mais de 20 anos, foi “a única estratégia encontrada para driblar os altos custos de vida e conseguir uma moradia”. “Se a gente não pressionar a Prefeitura, essas pessoas serão expulsas da região em breve.”
De acordo com Silva, o movimento será recebido hoje na Secretaria Municipal de Habitação para tratar da ocupação. A pasta não confirmou.
O advogado do UMM, Edilson Mineiro, afirmou que 600 famílias já estão no local e que o movimento cadastrou todos os nomes para apresentá-los à Prefeitura. “A organização é uma resposta à ilegalidade de deixar a área abandonada. As pessoas estão preparadas para resistir.”
Cenário. Na sexta-feira, poucos barracos estavam montados e havia apenas uma cozinha com luz elétrica em toda a área do terreno, que tem cerca de 20 mil metros quadrados. Os novos moradores ainda trabalhavam para cortar o mato, delimitar o espaço de cada família, montar as lonas e retirar os entulhos do chão. Muitos homens usavam enxadas e outros queimavam parte da vegetação para abaixar o mato alto, que estava na altura do joelho, segundo Anderson Felipe Lima, de 22 anos, um dos líderes da ocupação.
Os moradores têm se revezado entre as casas que alugam na Favela Vila Prudente e a ocupação. “Estou aqui desde o primeiro dia e só saio para trabalhar. As mulheres e as crianças ficam um pouco aqui e um pouco na casa que nós alugamos”, contou o metalúrgico Reginaldo Dias, de 30 anos. Com o filho de 1 ano no colo, ele explicou que o custo do aluguel, de R$ 800 por mês, é inviável para a família. “Todo mundo em casa tem de trabalhar para ajudar nos custos, e a gente trabalha muito para comer mal.”
Roseana Alves, de 40 anos, disse que não sai do terreno desde o primeiro dia da ocupação. “Desde quarta-feira não sei o que é arroz e feijão. A gente passa frio também, mas já enfrentamos coisas piores”, afirmou. Égila Bernardo Alves Santiago, de 25 anos, também se queixa. Mãe de um menino de 3 anos, ela contou que R$ 600 dos R$ 900 que ganha por mês vão para o aluguel. “É horrível ver criança chorando de fome.” Todos os dias, as mulheres passam café e distribuem entre os moradores. Com R$ 2 arrecadados de cada um, também compram pão e outros alimentos, que são preparados de forma comunitária.
Propriedade privada
O terreno é de propriedade da empresa Saven. A imobiliária e construtora Savoy, que administra os bens imóveis da Saven, informou que a área será destinada a um empreendimento comercial. De acordo com o advogado Otavio Caetano, da Savoy, a área nunca esteve abandonada e os impostos estão em dia.
Caetano afirmou que, ao saber da possibilidade de invasão, a empresa enviou equipes de segurança privada ao local, para garantir seu “direito constitucional de propriedade”. Segundo ele, na madrugada de quinta, as equipes “tiveram sua integridade física ameaçada pelos invasores e a PM foi acionada”, mas ainda assim a invasão aconteceu.
O advogado ainda afirmou que a lideran&cce,dil;a do UMM havia informado que desistiria da ocupação se fosse comprovado o pagamento dos impostos, mas manteve a invasão. “Diante disso, foram tomadas as medidas jurídicas pertinentes, e o processo segue na esfera judicial.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.