Rio, Recife e Fortaleza (AG) – A constrangedora prisão do publicitário Duda Mendonça, flagrado numa rinha de galos no Rio, foi o pior momento de uma campanha sem brilho para os grandes nomes do marketing político.
A ausência de Duda da capital paulista a dez dias da eleição mostrou que não era tão relevante sua participação na campanha da prefeita Marta Suplicy (PT), candidata à reeleição. Marta, segundo o Ibope, está 14 pontos atrás de José Serra (PSDB).
As estrelas da propaganda em tempos de eleição ficaram em segundo plano em 2004, depois da vitória retumbante da estratégia do Lulinha Paz e Amor, o mote explorado pelo próprio Duda para Lula em 2002. Seu maior concorrente, o também baiano Nizan Guanaes, se restringiu a duas campanhas: dos petistas Jorge Bittar, no Rio, e Lindberg Farias, em Nova Iguaçu. Poderoso durante os anos Fernando Henrique, Nizan preferiu os bastidores. Mas Bittar não cresceu um ponto sequer e ficou em quinto lugar. Lindberg ainda luta contra o PMDB do ex-governador Anthony Garotinho.
Outro nome influente no marketing do governo Fernando Henrique, o cientista político pernambucano Antonio Lavareda, teve problemas com candidatos que assessorou. Em Recife, onde há 20 anos atua como conselheiro do governador Jarbas Vasconcelos (PMDB), Lavareda encerrou a campanha do candidato Carlos Eduardo Cadoca (PMDB), derrotado pelo prefeito petista João Paulo Lima e Silva, com troca de acusações e ofensas, numa lavagem de roupa suja em público. As acusações mútuas foram da falta de ética à cobrança da responsabilidade pelo fracasso.
Interpretação
No Rio, o prefeito Cesar Maia, estudioso aplicado do marketing político, também contou com a assessoria técnica de Lavareda para a interpretação das pesquisas qualitativas. Mas Cesar nem sempre seguiu suas orientações. Foi assim quando o secretário de Saúde, Ronaldo Cezar Coelho, tornou-se o alvo da deputada Jandira Feghali (PCdoB), que afirmou que ele fora mantido no cargo por ter doado R$ 400 mil à campanha, em 2000. Lavareda aconselhou o prefeito a demiti-lo e livrar-se da crise. Mas Cesar foi à TV e disse que o manteria no segundo mandato.
Campeão de votos e eleito no primeiro turno, o prefeito de Aracaju, Marcelo Déda (PT), dispensou a ajuda de grandes estrelas do marketing. O mesmo tem feito a companheira Luizianne Lins, em Fortaleza, com 55% das intenções de voto. Déda não menospreza a importância dos profissionais da área, mas defende posições cada vez mais técnicas, ficando menos em evidência durante a disputa.
“Houve momentos em que as figuras principais das eleições eram os marqueteiros. Hoje não é mais assim e nem pode ser. São peças auxiliares, porque é a política que deve ser a senhora da disputa”, diz o prefeito. O publicitário Rui Rodrigues, da equipe de Nizan Guanaes, concorda: há foco excessivo na profissão.
Para Rui, numa eleição o marketing é apenas um dos componentes e, este ano, não foi pior nem melhor: “O instrumental da campanha de Serra é o mesmo da campanha de Marta. Não vejo tanto poder no marketing. Um papel mais fora da ribalta é conveniente, o ator principal é o político”.
Rede mundial “esvazia” função
Rio (AG) – Os serviços de um publicitário experiente têm na internet fortes concorrentes. Na rede, é possível, sem gastar um tostão, ter um curso básico de marketing para enfrentar uma campanha eleitoral. Há sites que oferecem os mais variados produtos aos políticos: desde instruções sobre como se comportar em público, no palanque, diante da imprensa ou na televisão, até modelos pré-fabricados de santinhos e de páginas virtuais para vender as idéias do candidato. É possível fazer na hora um orçamento do modelo de site ideal – com ou sem currículo ou programa de governo, por exemplo.
O site Política para Políticos (www.politicaparapoliticos.com.br) dá conselhos sobre como participar de debates, lições de história e atualidades, dicas de como agir, falar e construir uma imagem. Viajar com muitos assessores pode dar a impressão de uma campanha rica, avisa o site.
“Afasta o eleitor do candidato. Passa a idéia de campanha rica e tem o efeito de secundarizar o eleitor, porque as atenções do candidato se dividem entre seus acompanhantes e os eleitores. Além disso, transmite a idéia de arrogância, de quem se sente muito importante”, diz o site, cujo editor responsável é Francisco Ferraz, apresentado como professor de ciência política na UFRGS, pós-graduado em ciência política pela Universidade de Princeton.
Reeleição
Especialista em marketing político e em reeleição, o historiador Fernando Navarro acredita que a propaganda atingiu no Brasil nível igual ao dos países desenvolvidos, mas que publicitário sozinho não garante a vitória de um candidato. Ele disse que a reeleição torna mais fácil a disputa, mas que isto não basta para garantir a vitória de um candidato.
“Se tiver uma administração bem avaliada, é lógico que o político leva vantagem. Nesses casos, a tarefa da equipe de marketing é fazer o eleitor associar o trabalho de governo à imagem do candidato. Ou seja, transformar em votos a aprovação”, comentou.
