Agência Senado |
Osmar Serraglio: "Quem não está grampeado? Eu acho que todo mundo |
Brasília – A paranóia está no ar. O clima de confronto instalado no Congresso há mais de cinco meses, desde que surgiram as primeiras denúncias sobre o mensalão, tem levado deputados e senadores a se julgarem vigiados, vítimas de espionagem. O presidente do Conselho de Ética da Câmara, deputado Ricardo Izar (PTB-SP), disse ontem ter sido vítima de grampo telefônico, descoberto há cinco dias, segundo ele, por um amigo técnico em telefonia.
Ricardo Izar contou que os grampos estavam em seus telefones do escritório e de sua casa em São Paulo. Ele afirmou que pediu à Polícia Federal e à segurança da Câmara que investigassem se também seus telefones de Brasília, incluindo o celular, estavam grampeados. "Não sei com que interesse grampearam os meus telefones", disse Izar. Ele descartou a hipótese de o grampo ter sido feito pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). "Não tem fundamento falar que a Abin está grampeando telefones", disse.
Nesta semana, o clima de perseguição entrou no auge, após a denúncia do senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) de que o governo contratou uma pessoa para espionar sua família em Manaus. Anteontem, o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) também foi a público dizer que tinha certeza de que estava sendo grampeado e que tinha fortes evidências de que a Abin era quem estava por trás disso.
O relator da CPMI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), é outro que tem suspeitas de que está sendo grampeado. "Estou desconfiado. Meu telefone não tem funcionado normalmente nos últimos dois meses", afirmou Serraglio, que já chamou a empresa telefônica para verificar o telefone de sua casa.
Tentando mostrar, ao mesmo tempo, que encara a situação com tranqüilidade, o relator da CPMI disse não estar preocupado. "Não tenho medo. Não vou esquentar com um negócio desses", disse. Para ele, é difícil saber quem estaria por trás dos grampos. "Uma CPI mexe com uma série de interesses, com muita gente, muitas empresas, parlamentares. É difícil dizer quem estaria fazendo isso. Mas certamente é alguém que quer diminuir a força do relator dentro da CPI."
A senadora petista Ideli Salvatti (SC) também trabalha com a hipótese de estar sendo vítima de escuta telefônica e espionagem. "Já fiz varredura com o pessoal da segurança do Senado. Mas eles informaram que, com a atual sofisticação dos equipamentos, está cada vez mais difícil pegar", afirmou, contando que há cerca de dois meses sua família recebeu ameaças. Segundo ele, as denúncias de espionagem refletem claramente o clima de "vale-tudo" político que tomou conta do Congresso.
Ideli concorda com a avaliação de Serraglio de que é difícil apontar uma direção para quem estaria espionando os parlamentares. "Nós mexemos com muitos interesses. Por isso, todos podem estar sendo monitorados sob alguma lógica específica", disse a senadora governista, que aproveitou a deixa para dar uma estocada no deputado ACM Neto, cujo avô, o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), quase foi cassado por denúncias de ter grampeado adversários na Bahia. "Não se pode ter o pressuposto de que a Abin fez um grampo. Embora devamos reconhecer que de grampo ele entende", concluiu.
O líder do PSDB na Câmara, deputado Alberto Goldman (SP), minimiza a questão dos grampos e diz que não está preocupado. "Desde os tempos em que eu era do Partidão (PCB), depois líder do MDB na ditadura, sempre me acostumei com essa vida e parto sempre do princípio de que meu telefone está grampeado. Não dou a mínima pelota. Podem gravar o que quiser. Não faço nada que seja tão secreto que uma agência de inteligência não possa saber", disse Goldman.
Abin pode investigar as denúncias
Brasília – A Abin pode investigar a denúncia de que o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) e familiares seus estão sendo espionados por agentes do próprio órgão. A suspeita foi levantada pelo próprio deputado, que disse ter informações de que o seu telefone foi grampeado ilegalmente. O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, general Jorge Armando Felix, enviou ofício na terça-feira ao presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), com cópia para ACM Neto, pedindo informações sobre o caso. Dependendo da resposta, a Abin abrirá um procedimento de investigação interno.
Uma das reações mais curiosas à possibilidade de grampos foi a do deputado federal Osmar Serraglio (PMDB-PR), relator da CPMI dos Correios. "Quem não está grampeado? Eu acho que todo mundo está sendo grampeado. Eu mesmo não consigo falar mais do meu celular e atribuo isso a um possível grampo", afirmou Serraglio.
Tem pistas
Depois de ter denunciado na tribuna do Senado que petistas teriam contratado um espião para investigar sua família, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), afirmou no início da noite de terça-feira ter pistas sobre a origem da notícia. Ele disse que recebeu um telefonema do dirigente da Força Sindical, Carlos Lacerda, seu conterrâneo, informando ter "quase certeza" de que o grupo que estaria vasculhando sua vida, e teria feito ameaças à sua família, seria coordenado por Wagner Caetano Alves de Oliveira, funcionário do Palácio do Planalto.
A assessoria de imprensa da liderança do PSDB informou que o senador conseguiu saber que Oliveira é subsecretário de Estudos e Pesquisas Político-Institucionais e esteve recentemente em Manaus na inauguração de um restaurante popular. Teria sido lá, segundo a assessoria, que Carlos Lacerda teria travado contato com ele. Em nota, Arthur Virgílio afirma que ligou diretamente para o funcionário palaciano, que atendeu no celular.
"Vou ser direto", teria dito Virgílio, que afirmou ter falado diretamente para o assessor sobre as informações que havia recebido. Wagner Caetano negou que tivesse qualquer vinculação com o caso e ouviu do senador que o cerco será fechado em torno dos responsáveis e que considera intolerável mexer com sua família.