São Paulo
(AE e AG) – O pré-candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, aumentou ontem tom das críticas à Polícia Federal. Depois de comparar a corporação à polícia política e ao Dops criado por Getúlio Vargas, Lula disse na Rádio Record, que a corporação é “nazista” e a comparou a Gestapo. “Que perseguição política é essa? Por menos do que isso Nixon (ex-presidente norte-americano) renunciou. Que Gestapo foi criada no Brasil? Que polícia nazista é essa?”, disse ele, referindo-se aos grampos telefônicos da Polícia Federal em telefones de integrantes do PT e sobre o fato de ser investigado pela corporação até anteontem.“Que terrorismo barato é esse que nós imaginávamos que já tínhamos derrotado depois do Riocentro, em 1980 e depois do fim do regime militar. Essa polícia política eu nem sabia que existia, eu pensei que já tinha acabado”, disse Lula. “Essa polícia política criada por Getúlio Vargas na década de 30, o Dops, que prendeu tanta gente nesse País, agora está travestida de Polícia Federal a serviço de candidaturas, a serviço de quem ? – cabe ao ministro investigar”, acrescentou.
Lula reiterou que a suspeita de cobrança de propina na Prefeitura de Santo André, governada pelo PT, tem de ser investigada. Mas questionou a conduta da Polícia Federal e a maneira como a Justiça autorizou a quebra de sigilo telefônico e bancário de petistas, assim como a investigação sobre a sua pessoa. “Quero saber por que aconteceu isso e quero saber se eles estão investigando também o José Serra (candidato do PSDB à Presidência)”, afirmou. Lula classificou ainda a ação da PF como suspeita, acusou o ministro Miguel Reale Jr de estar sendo leviano e cobrou do ministro menos “palpite” e mais ação. Anteontem o ministro afirmou que o PT estava tentando esconder irregularidades.
Lula defendeu que os depoimentos na CPI que investiga o suposto esquema de cobrança de propina na prefeitura de Santo André sejam abertos. Ele, no entanto, disse desconhecer qual o motivo que levou o PT de Santo André a proibir o acesso da imprensa aos depoimentos. “É preciso saber quais as razões que levaram os vereadores a fechar a CPI. Sou a favor que todos os depoimentos sejam abertos e na luz do dia, porque na calada da noite tudo fica complicado.” O petista disse que a decisão de afastar ou não o secretário de Transportes de Santo André, Klinger Oliveira de Sousa, cabe ao prefeito João Avamileno.
O presidente do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello, afirmou ontem que se constatou alguns “desvios” na campanha eleitoral deste ano. “Precisamos voltar à boa trilha”, afirmou o ministro, depois de receber o líder do PT na Câmara, deputado João Paulo Cunha e outros parlamentares do partido, que foram informá-lo sobre a existência de uma espionagem, por mais de um ano, contra Lula. Para Marco Aurélio, o mais importante do que criar escândalos na campanha é buscar a revelação das idéias dos candidatos.
“Se está potencializando o lado negativo que não contribuiu para o estado democrático brasileiro”, afirmou o presidente do STF. Para o ministro é importante a instauração de inquérito administrativo, pelo Ministério da Justiça, para apurar como foi iniciada a investigação contra Lula. Os parlamentares mostraram documentos ao presidente do STF que comprovariam que um ofício da CPI do Narcotráfico foi falsificado para incluir Lula entre os investigados.
Ministro diz que vai investigar
Brasília
(ABr) – O ministro da Justiça, Miguel Reale Jr, determinou ontem a abertura de procedimento administrativo na Corregedoria da Polícia Federal. A intenção é apurar as denúncias de que houve grampo telefônico com fim de investigar o presidenciável do Partido dos Trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva. A decisão foi tomada ontem, após reunião com representantes do partido e o líder do PT na Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha (SP). O ministro permitiu que um parlamentar do PT acompanhe as investigações, para as quais pediu urgência.O líder do partido na Câmara, deputado João Paulo Cunha (SP), disse que o PT quer informação profunda sobre o suposto envolvimento de petistas em um esquema de desvio de verbas na prefeitura de Santo André. Reale Jr esclareceu que quando se encontrou com o presidente do PT, José Dirceu e com Márcio Tomaz Bastos, nenhum deles sabia que havia ocorrido a interceptação telefônica, em janeiro e fevereiro, com relação ao assassinato do prefeito Celso Daniel, no dia 20 de janeiro. Sobre a afirmação de Lula de que o ministro seria “leviano”, Reale respondeu: “Foi um destempero momentâneo do candidato e eu tenho a certeza de que haverá retratação diante da injustiça e da dureza da expressão”.
O candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes, disse que também foi vítima de escuta telefônica. Na opinião de Ciro Gomes, a Polícia Federal foi usada com fins políticos. “Acho que é inequívoca essa questão do uso político da Polícia Federal. Como é que a Polícia Federal pede a quebra de sigilo telefônico, enganando o juiz, dizendo que procura questões relacionadas ao narcotráfico?”, afirmou, referindo-se às escutas telefônicas de filiados ao PT, em Santo André, São Paulo. “A Polícia Federal é uma instituição respeitadíssima, é uma das boas coisas que o Brasil tem. Agora, de fato, frações dela têm sido despudoradamente manipuladas pelo governo, a serviço do seu apetite pelo poder, sem qualquer limite ético”, disse Ciro, antes de participar do encontro com a Associação dos Magistrados do Brasil, que reúne cerca de 15 mil juízes. Ciro acusou o candidado tucano, José Serra, de “fascista” e contrário à democracia por ter censurado sua participação no programa do PTB. Ciro também insinuou que Serra teria conhecimento sobre o caso de escutas telefônicas pela Polícia Federal, em Santo André (SP).
O presidenciável do PSB, Anthony Garotinho, disse que, se forem verdadeiras as suspeitas de que a Polícia Federal falsificou documentos para dar prosseguimento às investigações sobre o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, “estaremos diante de um fato grave, que precisa ser apurado”. “Um órgão que deveria estar servindo à sociedade não pode agir de forma facciosa”, afirmou Garotinho.