Alegando questão de segurança, o governo federal vai dobrar o efetivo da força-tarefa de segurança que cumpre determinação da Justiça Federal e retira famílias de não índios daquela que foi reconhecida como a terra indígena xavante Marãiwatsédé, no nordeste de Mato Grosso.
A Secretaria-Geral da Presidência da República não informou quantos policiais federais, rodoviários federais e homens da Força Nacional de Segurança Pública estão no local até agora.
Desde a última segunda-feira, 26 fazendas foram alvo da ação. Em resposta, manifestantes fizeram bloqueios que paralisaram vários trechos da BR-158. Houve confronto entre posseiros e policiais no primeiro dia de operação.
No fim da semana passada, os manifestantes passaram a usar tática de guerrilha: armaram uma emboscada frustrada para os agentes de segurança e são suspeitos de fazer uma armadilha para os caminhoneiros que já estavam presos em um dos pontos de interdição há quatro dias. Os posseiros culpam os índios pela
Decisão judicial
Os pequenos posseiros dizem não ter para onde ir. Muitos ocupam a área desde 1992. A terra indígena foi homologada em 1998 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Em novembro deste ano, as famílias foram notificadas pelos oficiais de Justiça, que deram 30 dias para que deixassem a área de 165 mil hectares.
Os posseiros dizem que a Funai (Fundação Nacional do Índio) errou propositalmente a demarcação de Marãiwatsédé para encobrir uma falha do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). A fundação nega a acusação.
Pelo planejamento inicial da força-tarefa do governo federal, as 31 grandes propriedades seriam as primeiras a ser desocupadas. Agora, segundo a Secretaria-Geral da Presidência, o roteiro não está mais sendo seguido para evitar novos confrontos e emboscadas.
Reassentamento
De acordo com coordenador-geral dos Movimentos do Campo e Territórios da Secretaria, Nilton Tubino, das 157 famílias que procuraram o Incra para serem reassentadas, 80 se encaixaram nas exigências do governo e serão procuradas a partir de amanhã. A ideia é começar a levá-las para os assentamentos ainda esta semana.
O reassentamento, no entanto, pode não ser tranquilo. Na semana passada, assentados há quatro anos da fazenda Santa Rita, em Ribeirão Cascalheira (MT), disseram não haver mais espaço para receber as famílias desalojadas da terra indígena. Tubino afirmou que ainda há lotes disponíveis para receber os posseiros.
Caminhão
Um caminhão que ontem ficou preso ao passar com 26 toneladas de carne em uma ponte de madeira na BR-158 permanecia no local até o fim da manhã de hoje. Segundo o dono do veículo, a ponte, que foi serrada e queimada, está cedendo cada vez mais. Ele aguarda que a seguradora contratada vá até o local retirar a carga e o caminhão.
Durante a madrugada uma ponte que fica a 25 km de Posto da Mata foi queimada e um dos caminhões que estava retido no bloqueio montado pelos posseiros, caiu ao tentar passar.
Enquanto isso, uma fila de veículos ainda espera para passar. A maioria deles estava presa há quatro dias no bloqueio feito por manifestantes em Posto da Mata, distrito de Alto Boa Vista. A passagem dos caminhoneiros foi liberada às 5h (6h em Brasília) de ontem, mas a armadilha estava preparada a 25 quilômetros de lá.
De acordo com o governo federal, um desvio foi feito no local e carros pequenos conseguiam passar normalmente até a noite de ontem.