Governo quer aprofundar racha e dissidência no PFL

Além cooptar o PMDB, a maioria do PP e estimular uma dissidência no PSDB, o Planalto atua para aprofundar o racha do PFL. O último lance dessa manobra foi uma conversa do ministro José Dirceu (Casa Civil) com o 1.º vice-presidente da Câmara dos Deputados, Inocêncio Oliveira (PE).

O cargo ocupado pelo deputado é estratégico: substituto imediato do presidente João Paulo Cunha (PT-SP), o deputado pernambucano eventualmente comandará algumas votações das reformas. Inocêncio prometeu ajudar. A conversa reservada de Inocêncio com Dirceu causou mal-estar na cúpula do PFL. A direção pefelista já havia decidido somente ter com o Planalto conversas públicas e com agenda definida. Por isso recusara um convite para um almoço de suas bancadas na Câmara e no Senado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a exemplo do que ocorreu com o PMDB e o PSDB.

Dois grupos com distintas visões sobre o apoio a Lula se digladiam no PFL. O presidente da sigla, Jorge Bornhausen (SC), o ex-vice-presidente Marco Maciel (PE) e os líderes do partido no Senado, João Agripino (RN), e na Câmara dos Deputados, José Carlos Aleluia (BA), apostam na oposição ao governo. “O PFL é incompatível com o PT”, afirma Aleluia.

O “grupo do grampinho”, como é denominado internamente (referência aos grampos telefônicos na Bahia), tem o comando do senador Antônio Carlos Magalhães (BA), de Roseana Sarney (MA), dos três governadores do partido e, agora, conta também com a colaboração de Oliveira.

Uma das manifestações do racha pefelista ocorreu na votação da chamada admissibilidade da reforma da Previdência pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, semana passada: os dez representantes do partido ficaram literalmente divididos, o placar foi de 5 a 5. Poderia ter sido 6 a 4 a favor do governo, não fosse a interferência de Marco Maciel, que mudou pelo menos um voto favorável ao governo no dia da votação.

No momento, o principal alvo do grupo governista é Aleluia. Já foi detectada pelo menos uma tentativa para destituí-lo do cargo de líder na Câmara, abortada pelo grupo oposicionista. O grupo fiel ao Palácio do Planalto promete apresentar um candidato a líder no final do ano – é da tradição do PFL a recondução de seus líderes.

Os cálculos sobre o racha são interessados. O grupo que quer apoiar o Planalto avalia que cerca de 35 dos 72 deputados do PFL devem acompanhar o governo nas votações mais polêmicas das reformas. Aleluia tem outro número: não mais que 15. Dos 16 senadores, a ala governista disporia de pelo menos seis.

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