Brasília – Depois de um dia de crise em sua base parlamentar, o governo conseguiu com afagos e promessas de liberação de emendas conter o clima de turbulência e acalmar as críticas de seus aliados.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai orientar seus ministros a darem mais atenção aos parlamentares e o governo vai acelerar a liberação de recursos do Orçamento para atender às emendas dos deputados. Depois de ouvir reclamações de todos os líderes durante jantar na residência oficial do presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), o governo, representado por cinco ministros, sinalizou com o atendimento de suas principais queixas. A liberação de emendas significa recursos para os municípios onde os parlamentares têm suas bases eleitorais. Muitos deputados são eleitos em uma relação de apoio mútuo entre prefeito e parlamentar.
Mas barrar a rebelião ensaiada na base aliada na Câmara pode custar caro ao governo. Os líderes dos partidos que apóiam o Palácio do Planalto esperam a liberação de emendas parlamentares num valor total em torno de R$ 2 bilhões, somando-se pendências de 2003 e mais as emendas parlamentares individuais de 2004. Estes recursos deveriam ser liberados até junho por causa da exigência da lei eleitoral por este ser um ano de eleições. O governo já acenou com a possibilidade de liberar R$ 800 milhões para pagar emendas parlamentares.
O orçamento deste ano foi aprovado prevendo gastos de R$ 6 bilhões em emendas parlamentares, somando-se as individuais e as emendas de bancadas. Pelo entendimento entre os deputados, cada um tem direito a apresentar emendas no valor total de R$ 2,5 milhões. Além destes, o governo Lula não executou parte do orçamento de 2003, quando ficaram pendentes emendas parlamentares que somam R$ 1 bilhão. Agora, os líderes aliados esperam que, além de R$ 1 bilhão de 2003, o governo autorize até junho o pagamento de mais R$ 1 bilhão referente às emendas dos deputados da base aliada.
“Calmaria”
Ontem, o clima na base foi de “calmaria” e de “trégua”, segundo os próprios líderes que ontem consideravam que a situação já estava “deteriorada” ou “insustentável”. O governo conseguiu que os líderes aliados saíssem do jantar, que durou cerca de cinco horas, com um discurso de unidade e com a disposição de defender o governo dos ataques da oposição, incluindo nessa estratégia a realização, a partir de agora, de discursos em plenário.
Para dar mais coordenação, o governo também acertou a retomada de uma sistemática, que funcionou no ano passado, de reuniões semanais com os líderes para articular ações conjuntas. O discurso do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, ajudou a pacificar a relação entre o Executivo e sua base.
No jantar, Palocci disse que tinha a compreensão de que, assim como a estabilidade econômica, é importante a estabilidade política para que o País possa crescer, e foi seguro ao afirmar que neste ano haverá mais investimentos do que em 2003.