O governo federal vai se reunir com os governadores do Acre, Tião Viana, e de São Paulo, Geraldo Alckmin, além do prefeito da capital paulista, Fernando Haddad, na semana que vem. A meta é acertar uma política conjunta para atendimento aos haitianos que estão chegando ao Brasil. Haverá reuniões separadas, uma com o governador do Acre e outra com o governador e com o prefeito de São Paulo.
Depois de reunião no Palácio do Planalto, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, informou que o governo brasileiro quer “estimular a entrada regular de haitianos com visto no Brasil” e, para isso, uma ampla campanha será feita no Haiti, a fim de esclarecer a vantagem de o nacional que quiser vir para cá, que o faça somente pelos meios legais, para que possa ser beneficiado por políticas de apoio a imigrantes. Cardozo não disse que políticas seriam essas, mas negou acesso, por exemplo, ao Bolsa Família. O ministro da Justiça afirmou, no entanto, que os haitianos poderão ter “assistência social em geral”.
O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo Machado, por sua vez, disse que o Itamaraty já ampliou em dez vezes a capacidade de emissão de vistos no Haiti. “Queremos que os haitianos venham garantindo a entrada normal e não precária, passando pela mão de quadrilhas ou coiotes”, de forma desorganizada, como está ocorrendo atualmente, segundo Figueiredo. O ministro negou, no entanto, que exista uma política de incentivo à vinda de haitianos para o Brasil. Negou ainda que o governo brasileiro vá colocar à disposição dos haitianos qualquer tipo de transporte para trazê-los para o Brasil.
Cardozo anunciou três medidas após a reunião, que incluiu a mobilização de oito ministérios: estimular a emissão de vistos para haitianos em seu país, a criação de unidades nos Estados para onde os haitianos estão se dirigindo e que o Itamaraty entre em contato com os países por onde os haitianos estão passando a caminho do Brasil, para que eles possam receber o visto de entrada.
Os números disponíveis no governo apontam que mais de 21 mil haitianos ingressaram legalmente no Brasil entre 2010, quando houve o terremoto no Haiti, e 2013. A maior parte destes haitianos chegou ao Brasil pela fronteira do Acre, depois de cruzar o Equador e o Peru. No Acre, os haitianos receberam documentos e abrigo na cidade de Brasileia. Só que, depois, centenas deles seguiram para São Paulo, em busca de oportunidades. Travou-se, então, uma batalha política entre os governos do Acre e de São Paulo, com os governantes paulistas acusando o Acre de estar repassando o problema. Os petistas Tião Viana e Fernando Haddad, prefeito de São Paulo, começaram a discutir pela imprensa por causa dos haitianos. O governo federal decidiu, então, intervir na questão para tentar reduzir a tensão criada e adotar uma política de atendimento aos haitianos que teria apoio federal.
O ministro das Relações Exteriores acrescentou que a intenção é não haver nenhuma política de restrição aos haitianos, como hoje. “Simplesmente vamos ter um novo tipo de organização dessa entrada, para atendê-los de uma forma que evite os coiotes. Hoje em dia os haitianos estão sendo vítimas, para chegar ao Brasil, de coiotes. Na verdade, o que nós buscamos é que eles tirem o visto nas nossas embaixadas ou no Haiti ou na rota para o Brasil para que entrem aqui plenamente documentados e protegidos de quadrilhas de crime organizado que fazem hoje em dia esse tráfico de pessoas”, completou Figueiredo. O ministro explicou que nos dias atuais o Brasil concede cerca de mil vistos por mês.