A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de elevar a taxa Selic em 0,5 ponto porcentual, para 11,75% ao ano, não foi bem recebida nem pelos políticos do governo nem pelos da oposição. A avaliação principal é de que o BC poderia ter esperado mais e mantido a Selic no mesmo nível. A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira.
Acredita-se que a decisão pode prejudicar o crescimento da economia, os investimentos e acelerar a valorização do real, desequilibrando as contas externas. Além disso, para a oposição, a medida reflete a falta de ação do governo no controle dos gastos públicos.
Para o presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), a decisão do Copom ?superou as piores expectativas?. Em tom crítico, destacou que parte importante da inflação é importada, derivada de alimentos e matérias-primas internacionais. ?A decisão vai aprofundar a apreciação do real e prejudicar os investimentos.
Mercadante disse torcer para que o Banco Central ?não repita o erro de 2004?, quando iniciou, no fim do ano, um ciclo de alta de juros que abortou para os dois anos seguintes o processo de forte crescimento que a economia brasileira ensaiava. ?Só espero que este seja o único aumento da Selic e o BC não repita o erro de 2004.
O líder do DEM na Câmara, deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (BA), fez coro às críticas. Segundo ele, a decisão vai colocar um freio no crescimento do País e impor maior cautela dos empresários na realização de investimentos. ?Foi uma decisão equivocada. O BC deveria ter mantido os juros.
Na visão do parlamentar, se havia necessidade de alguma correção na economia, isso deveria ocorrer via redução dos gastos públicos. ?Se era necessário um ajuste, deveria ser feito no gasto público. Não adianta o governo deixar de atacar o coração do problema, que é o crescimento do gasto corrente. A providência correta era o governo enxugar sua máquina. A alta de juros só vai colocar um freio no crescimento econômico?, acredita ACM Neto.
O deputado questionou a independência do Copom, argumentando que o presidente Lula já havia indicado, no início da semana, que a taxa Selic subiria. ?A independência do Copom é relativa, pois o presidente Lula antecipou a tendência de alta da Selic, o que é um indício de que a decisão foi previamente discutida.?
O senador e presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), disse, por meio de sua assessoria, que a decisão do Copom mostra que o País não está descolado da crise externa e o presidente Lula deveria agir para melhorar a solidez da economia brasileira. ?A idéia de que o Brasil está fora do mundo está equivocada. Por mais que o presidente Lula dê conselhos ao presidente dos Estados Unidos, ele vai ter de acertar as coisas aqui dentro. (A decisão do Copom) não é um sinal vermelho, mas é um sinal amarelo.