O governo do presidente Eduardo Duhalde convidará nesta segunda-feira o virtual presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva para que visite a Argentina na segunda quinzena de novembro. O convite, feito informalmente dias atrás, seria formalizado nesta segunda-feira. Hoje (27), o chanceler Carlos Ruckauf, afirmou que o governo argentino proporá que o presidente eleito do Brasil venha à Buenos Aires entre o 15 e o 19 de novembro.

A idéia seria que Lula viesse à Buenos Aires logo após a reunião de cúpula de presidentes ibero-americanos, que será realizada na República Dominicana, em novembro. Na volta da cúpula, Duhalde passaria por Brasília, e traria Lula no avião presidencial como convidado especial.

Ruckauf destacou a importância da associação estratégica da Argentina com o Brasil, e sustentou que o parceiro comercial ?é um companheiro imprescindível? na negociação da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). O chanceler argentino definiu o Brasil como ?um colosso? e afirmou que é o principal parceiro comercial da Argentina ?que deve encabeçar com os Estados Unidos na reunião de Quito o assunto da ALCA?.

Segundo Ruckauf, o resultado das eleições brasileiras vai proporcionar uma aproximação maior entre a Argentina e o Brasil.

Em uma entrevista ao jornal ?Clarín?, Luiz Dulci, um dos assessores de Lula, afirmou que a Argentina ?não é parte do problema. É parte da solução?.

Inveja – A vitória de Lula foi celebrada pela deputada Elisa Carrió, presidenciável e líder do centro-esquerdista Argentinos por uma República de Iguais (ARI). ?Seu triunfo beneficia toda a América Latina?. Segundo ela, esta é ?uma oportunidade de gerar uma nova democracia e um novo desenvolvimento regional?. O deputado trotskista Luis Zamora, líder do partido Autodeterminación y Libertad, sustentou que a vitória de Lula ?é um triunfo contra a barbárie do capitalismo?. ?Que falta faz um Lula por aqui!?.

Este comentário, em um tom misto de admiração e inveja, foi uma constante entre os militantes dos partidos argentinos de centro-esquerda e esquerda que acompanharam atentamente as eleições brasileiras. Diversos militantes dos partidos esquerdistas – quase todos de pequenas dimensões e mergulhados em viscerais brigas internas – admitiam que a Argentina estava a ?anos-luz? de poder contar com uma liderança similar.

No entanto, alguns setores da esquerda argentina não estavam satisfeitos com a vitória de Lula. Jorge Altamira, irmão de Luis Favre, namorado da prefeita petista de São Paulo, Marta Suplicy, declarou que está contra a presença, na vice-presidência da República, de um integrante do Partido Liberal: ?é uma chapa que inclui um empresário quase fascista. Não podemos apoiar uma política de acordo com o FMI e com a Bolsa?. Segundo Altamira, Lula possui um programa político ?anti-operário?.

O sindicalismo também celebrava a chegada ao poder de um ex-torneiro mecânico. Integrantes da Central dos Trabalhadores Argentinos (CTA) reuniram-se no restaurante ?Me leva Brasil?, no bairro de Palermo, para celebrar a vitória do primeiro presidente de origem operária da América do Sul. Além disso, integrantes do funcionalismo público preparavam-se para comemorar ao redor do Obelisco, o monumento-símbolo da cidade de Buenos Aires.

Famintos – Para a imprensa argentina, a vitória de Lula era uma certeza. Segundo o tradicional ?La Nación?, Lula ?quer fazer História no Brasil?. O centenário jornal destacou as origens operárias do presidente eleito. Além disso, prevê que no ano que vem, Lula terá ?um ano difícil no horizonte econômico?. Um dos colunistas políticos sustentou que o novo presidente ?não é um novato na política, mas ainda não deu provas de talento na administração governamental?.

O jornal de maior tiragem do país, o ?Clarín?, define Lula como ?um hábil negociador com capacidade de liderança?. Além disso, destaca que o novo governo terá como ?herança? da administração FHC ?uma enorme dívida social?.

O jornal ?Página 12? publicou na capa uma imensa foto de Lula parafraseando uma famosa canção: ?Tristeza sim tem fim?.

Segundo o jornal, Lula será o presidente eleito com mais votos na História do Brasil: ?ele necessitará destes votos para implementar seu projeto de dar trabalho e comida a milhões de famintos?.

continua após a publicidade

continua após a publicidade