Governo, Congresso e ONU podem aumentar grupo de engenharia no Haiti

Porto Príncipe (Haiti) – A força de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti pode aumentar o efetivo de militares brasileiros que trabalham com atividades de engenharia. A decisão complementaria o potencial do trabalho de obras de infra-estrutura que a Companhia Brasileira de Engenharia pode desenvolver no solo haitiano, como atividades de drenagem, distribuição de água potável, limpeza de canais e asfaltamento de ruas. Atualmente, o grupo de engenharia integra a missão com 150 homens, que respondem diretamente ao force commander da missão militar da ONU, o general brasileiro Carlos Alberto Santos Cruz.

A proposta de aumentar o efetivo em 100 homens foi apresentada ontem (3) pelo Exército ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, mas ainda depende de discussão dentro das Nações Unidas, do governo brasileiro e a ratificação do Congresso Nacional, que pode aprovar ou não o aumento do efetivo. Segundo os comandantes das tropas brasileiras e da companhia de engenharia, coronéis Tomás Miné Paiva e Antonio César Alves Rocha, a realocação de soldados que fazem operações militares para obras de engenharia não seria possível neste momento sob a possibilidade de colocar em risco o processo de estabilização em regiões-chave como Cité Soleil, favela ocupada pela força da ONU.

"O fato de ter havido a estabilização do processo começou a deslocar as obras dirigidas de engenharia para uma atividade não mais somente das obras de suporte para a tropa brasileira, mas também de alguns programas de Estado para atender as necessidades da população. E nós temos uma tendência a isso", explicou o ministro em referência à tradição militar brasileira de trabalho em obras de engenharia civil. "Acontece que premido pelas situações locais, pela situação do Haiti, o Brasil começa a dar resultados em obras de engenharia. Coisa que não ocorre com outros batalhões aqui, que possuem somente expertise (especialização) de apoio a militares."

Segundo Jobim, atualmente isso significa "evidentemente um processo de tensão interna", em que há a redução da violência na cidade, ao mesmo tempo há possibilidades de as tropas virem a executar obras de infra-estrutura para suprir demandas básicas da população. Para o ministro, é natural começarem a surgir pressões para isso. "Agora, a decisão precisa ser tomada pela ONU. Mas ela parte do pressuposto de que o Brasil possa aumentar o seu efetivo. Agora, uma coisa parece certa. E ter a lucidez para isso. Qualquer coisa que não dê certo, não é a Minustah que não deu certo, é o Brasil que não deu
certo", complementou.

Para ele, a população haitiana identifica o Brasil como líder nessas decisões e, por isso, se deve atender essa necessidades como forma de buscar o sucesso da missão e da imagem da "bandeira brasileira" no braço dos soldados da ONU. A Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah) responde atualmente por cerca de 7% do contingente total de capacetes-azuis distribuídos pelo mundo em 19 missões de paz  autorizadas pelo Conselho de Segurança. O custo de sua manutenção anual é de cerca de US$ 500 milhões. No caso do Brasil, parte desse dinheiro da ONU reembolsa os gastos das Forças Armadas na missão de paz.

* O repórter viajou no avião da Força Aérea Brasileira (FAB)

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