Governo brasileiro é contra proteção mais severa ao mogno

O Brasil tornou público ontem, em Santiago do Chile, que é contra a proposta de inclusão do mogno no Anexo II da Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas (Cites) como forma de aumentar a proteção à espécie. Representantes de 160 governos estão reunidos desde o último domingo (3/11) para discutir mais de 50 propostas sobre o status de proteção de espécies ameaçadas de extinção e a relação com o comércio internacional.

?O Itamaraty atropelou a determinação do presidente Fernando Henrique Cardoso de que todos os ministérios devem consultar a equipe de transição do próximo governo antes de tomar qualquer decisão?, disse Nilo D?Ávila, da campanha da Amazônia do Greenpeace, que está em Brasília (DF).

A delegação brasileira que está no Chile defende a manutenção do mogno no Anexo III e apresentou o Sistema Integrado de Controle e Monitoramento dos Recursos Florestais (Sisprof), o aumento da fiscalização e a nova legislação para o manejo de áreas com ocorrência de mogno para justificar a sua posição contrária ao Anexo II.

?O Sisprof é um sistema que ainda não foi implementado e a nova legislação, que ainda está sendo elaborada pelo Grupo de Trabalho estabelecido pelo Ministério do Meio Ambiente, ainda não foi aprovada. Além disso, é reconhecida a incapacidade do Ibama de controlar de forma adequada a exploração madeireira no Brasil devido a sua carência de recursos financeiros, técnicos e humanos?, disse Paulo Adário, coordenador da campanha da Amazônia do Greenpeace, em Santiago. ?A posição da delegação brasileira é inaceitável e pode levar à extinção comercial do mogno em poucos anos.?

A proposta de aumento da proteção do mogno foi apresentada pela Guatemala e Nicarágua e tem o apoio dos países da União Européia, América Central, além da Bolívia e da própria Cites. Desde 1988, o mogno está listado no Anexo III. A medida se mostrou ineficaz para garantir a origem legal do mogno comercializado, bem como para dar transparência ao mercado e reduzir a pressão indiscriminada aos estoques remanescentes. Uma das razões é que o Anexo III é unilateral e não implica compromissos firmes de outros países produtores ? o que dificulta o controle efetivo por parte do mercado, das autoridades dos países produtores e consumidores, além da própria Cites. Entre 1999 e 2001 foram ?legalmente? exportados 131 mil m3 de mogno, sem contar o contrabando. Estudo do Ibama revela que pelo menos metade dessa madeira era ilegal.

O Anexo II, por sua vez, responsabiliza países produtores e consumidores pelo controle compartilhado do comércio, contribui para regular o mercado e reduzir a ilegalidade e o contrabando. Também aumenta o controle oficial sobre os impactos ambientais da exploração e dá mais transparência ao processo ao incorporar uma Autoridade Científica ao trabalho da Autoridade Cites no país de origem ? no caso do Brasil, o Ibama.

No dia 9 de abril, o presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou, em seu programa de rádio A Palavra do Presidente, que ?o governo fará tudo para proteger o mogno, uma riqueza de nossas florestas que infelizmente, como alvo da cobiça dos madeireiros, está ameaçada de extinção?. O ministro do Meio Ambiente, José Carlos Carvalho, também afirmou ser a favor do aumento da proteção ao mogno.

?Afinal, quem fala em nome do Brasil??, questiona Adário.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo