Governo apura hipótese de sabotagem no foguete

Brasília – O governo não descarta a possibilidade de sabotagem na explosão do terceiro protótipo do VLS. Mesmo considerada remota, essa hipótese está sendo investigada pela inteligência da Aeronáutica. O que mais intriga o governo brasileiro é que a explosão não foi durante o lançamento, previsto para a próxima segunda-feira.

O VLS estava sendo preparado para ser lançado de sua plataforma. Foi, portanto, um incidente no solo, daí o grande número de vítimas, todas elas técnicos que trabalhavam no foguete no momento do acidente. O protótipo é abastecido com 40 toneladas de combustível sólido. “Não sabemos o que aconteceu. A Aeronáutica é responsável pelas investigações e nenhuma hipótese está descartada”, disse o ministro Roberto Amaral (Ciência e Tecnologia), por telefone, sem confirmar diretamente a preocupação com um eventual ato de sabotagem.

Para Amaral, o maior prejuízo, além das vidas humanas, foi subjetivo: “O incidente atrapalha a afirmação ideológica do projeto, a afirmação de nossas possibilidades para conduzi-lo com êxito”. Ele, porém, adiantou que nas suas conversas com o ministro José Viegas (Defesa), a última delas por volta das 17h45, estava evidente que o programa espacial brasileiro será mantido: “Não vamos arrefecer os ânimos, vamos prosseguir no projeto”.

Amaral disse que já havia temor de algo dar errado e a culpa recair sobre o atual governo. Tratou de lembrar que o projeto é da gestão Fernando Henrique Cardoso: “Recebemos o protótipo pronto, e confesso que havia algum receio. Não podíamos abrir. Só saberíamos se tudo estava OK na hora do lançamento”.

A realidade é que o VLS brasileiro foi contestado por países desenvolvidos por abrir a possibilidade de o País usar sua tecnologia em mísseis balísticos. Apesar da possibilidade de sabotagem ser, nesses casos, natural, o criador do projeto do Veículo Lançador de Satélites (VLS), major-brigadeiro reformado Hugo de Oliveira Piva, 76, não acredita nessa possibilidade e acha que o acidente ocorreu por uma falha humana na operação de um dos motores. Ele diz ser mínima a possibilidade de sabotagem. “No momento, pode parecer uma opinião leviana, mas acho que certamente houve uma falha humana. Pela experiência de mais de 30 anos, acredito que houve falha de manuseio. O acidente não foi no ponto crítico usual, que é o lançamento”, diz Piva.

“Possibilidade existe, mas é muito pouco provável. São centenas de equipamentos sofisticados que têm de trabalhar com precisão. Se desregulados, poderiam causar problemas sérios. Mas não acredito”, declara o brigadeiro. Piva calcula que a destruição do VLS deve atrasar em ao menos um ano o projeto. “Tenho medo dos imediatistas que podem dizer que não devemos mais investir no programa”, diz Piva.

Mortos na base chegam a 21

Alcântara

– A explosão do terceiro protótipo do VLS na plataforma do Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, deixou pelo menos 21 mortos. Oficialmente, o Ministério da Defesa confirmou 16 mortos, na sexta-feira. As operações de resgate foram reiniciadas ontem de manhã. O coordenador de comunicação da operação VLS, major Gustavo Krüger, disse que a maioria das vítimas era de São José dos Campos (SP). Peritos disseram que a identificação deverá ser feita pela arcada dentária das vítimas.

De acordo com Krüger, havia 230 pessoas diretamente envolvidas na operação VLS. Mas na tarde de anteontem, no momento da explosão, parte da equipe estava de folga na base. Segundo o major, apenas funcionários da manutenção estavam trabalhando, e com uma equipe reduzida, por causa da periculosidade do serviço. Esta é a lista de mortos em Alcântara, tirada do site do projeto VLS: 1. Amintas Rocha Brito, 2. Antônio Sérgio Cezarini, 3. Carlos Alberto Pedrini, 4. César Augusto Costalonga Varejão, 5. Daniel Faria Gonçalves, 6. Eliseu Reinaldo Moraes Vieira, 7. Gil César Baptista Marques, 8. Gines Ananias Garcia, 9. Jonas Barbosa Filho, 10. José Aparecido Pinheiro, 11. José Eduardo de Almeida, 12. José Eduardo Pereira II, 13. José Pedro Claro Peres da Silva, 14. Luís Primon de Araújo, 15. Mário César de Freitas Levy, 16. Massanobu Shimabukuro, 17. Maurício Biella de Souza Valle, 18. Roberto Tadashi Seguchi, 19. Rodolfo Donizetti de Oliveira, 20. Sidney Aparecido de Moraes e 21. Walter Pereira Júnior

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