Governo aprova PEC de goleada

Brasília

– O governo venceu sua primeira prova de fogo na Câmara dos Deputados e aprovou, ontem, a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que altera o artigo 192 da Constituição, permitindo que leis complementares regulem o sistema financeiro. Foram 442 votos a favor, 18 contra e 17 abstenções. Eram necessários 308 votos. O governo também conseguir rejeitar as emendas à PEC. Caso fossem incluídas, o trâmite da matéria seria mais lento. A proposta teria de voltar ao Senado.

A vitória do governo ocorreu após o PT dobrar os radicais do partido e angariar o apoio de todos os partidos da base aliada, menos o do PDT, que se absteve na votação. A PEC abre caminho para a autonomia do Banco Central. No entanto, essa matéria só deve ser votada no ano que vem. Não há consenso sobre ela no Congresso. Antes da votação, o deputado Walter Pinheiro (PT-BA), apesar dos pedidos da liderança, subiu à tribuna e apresentou um manifesto de 34 deputados do PT contra a autonomia do BC. Segundo o deputado, os radicais do partido votariam a favor da PEC mas manteriam o posicionamento contrário à autonomia.

O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, foi o grande operador político da primeira vitória do governo Lula na Câmara, com a aprovação da emenda constitucional sobre o sistema financeiro: conseguiu a trégua dos radicais do PT, o apoio do PSB e até o recuo do ex-governador do Rio, Anthony Garotinho, isolado pela cúpula pedetista.

Na base de sustentação do governo, Dirceu só não dobrou o presidente do PDT, Leonel Brizola. Depois de três idas à Câmara, na terça-feira, o máximo que conseguiu foi fazer com que os 16 deputados do partido se abstivessem da votação. “Votem a favor do Brasil”, pedia o ministro em sua peregrinação pelos gabinetes. Parecia uma campanha eleitoral: na véspera da votação, Dirceu só deixou a Câmara às 21h40. Adepto da máxima “cada dia com sua agonia”, ele não agiu sozinho: dividiu a tarefa com o presidente do PT, José Genoino, que ficou responsável por atrair os radicais petistas.

Para comemorar antecipadamente o bom desempenho do governo, Dirceu almoçou ontem com o presidente do PSB, Miguel Arraes, e, para surpresa de muitos, com o próprio Garotinho. Agradeceu a colaboração e citou várias vezes a melhora dos indicadores econômicos, como a queda do dólar e do risco-país. “Estou com o espírito desarmado, até porque não fui eu que atirei a primeira pedra”, afirmou Garotinho, ao justificar o recuo de sua posição contrária à proposta aprovada.

“O dinheiro do Rio de Janeiro foi bloqueado pelo governo Lula no primeiro dia da administração da Rosinha”, completou, numa referência à sua mulher, Rosinha Matheus, governadora do Rio.

Garotinho tentou pressionar o Planalto, ameaçando com os votos contrários de 13 deputados da bancada evangélica do PDT.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo