Enquanto o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, recolhe-se para pensar se está disposto ou não a se manter à frente do comando da pasta, apesar das pressões para mudanças na política econômica, vários cenários são analisados nos bastidores.
Em todos os panoramas, existe uma premissa: o timing para decisão. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não quer agir com pressa e acredita que Palocci conseguirá se sair muito bem na exposição que fará, no dia 22, perante a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, para falar a respeito das denúncias de que atuou como articulador na arrecadação de fundos para a campanha eleitoral do PT.
"O presidente pode ir, simplesmente, jogando com o tempo", disse um integrante do governo. Para esse assessor, em nenhuma hipótese, deve-se esperar de Lula uma atitude como fez o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao demitir o ex-ministro da Casa Civil Clóvis Carvalho, por ter feito um discurso contra a política econômica executada pelo ex-ministro Pedro Malan. "Esse timing, inclusive, já passou", observou uma fonte.
Cenário 1 – Palocci fica e se defende de denúncias
Esse cenário considera que Lula não abrirá mão de Palocci porque está convencido de que a política econômica trará benefícios ao País no médio e longo prazo. A inflação é mantida sob controle e poderá desenvolver sua campanha de reeleição, se assim entender, baseado na estabilidade econômica. Aqui, Lula é colocado como um conservador, no sentido de que não estaria disposto a correr riscos ou ter que fazer mágicas para garantir o controle da inflação.
Lula, nesse cenário, tentaria convencer Palocci a ficar no cargo. Palocci deixou o gabinete do presidente na sexta-feira (11) abatido por ter sido alvo de críticas contundentes da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Se o ministro retornar a Brasília, na quarta-feira (16), convencido de que não tem motivação pessoal para ficar no cargo, enfrentará a pressão de Lula para mudar de opinião.
Nesse caso, ainda está pendente de avaliação a possibilidade de Lula fazer um pronunciamento à Nação em defesa do ministro. Existe a hipótese de se limitar às declarações em eventos públicos e, enquanto isso, buscar o que se poderia considerar um consenso entre Dilma e Palocci.
Resolvida a questão pessoal do ministro da Fazenda, o grupo palaciano acredita que "não existe mais bala na agulha" na metralhadora que seus ex-assessores na prefeitura de Ribeirão Preto, Rogério Buratti, e Vladimir Poleto direcionaram a Palocci. "Estamos convencidos de que se as denúncias forem as que estão colocadas, o Palocci tem condições de se defender." "Não há nenhuma acusação que pese. O que existe são fatos duvidosos", afirmam os defensores da permanência de Palocci.
Cenário 2 – Palocci não fica
O ministro Palocci encontra-se com Lula na quarta para dizer que a decisão pessoal e irrevogável é deixar o governo. Sairia porque, apesar de poder se defender das denúncias de Buratti e Poleto, não considera que tenha de passar por situações de constrangimento, colocando a vida familiar exposta à mídia. Nesse cenário, o ministro jogaria nas mãos de Lula a decisão de manter ou não a atual política econômica, representada no firme controle dos gastos públicos, sem válvulas de escape para atender às pressões por mais gastos. Uma situação que cria novos cenários para Lula com opções para o sucessor de Palocci, com crescente pressão para uma solução dos quadros do partido.
Cenário 3 – Palocci sai e Murilo Portugal assume
Nesse cenário, que melhor atende ao mercado financeiro, o sucessor natural de Palocci seria seu secretário-executivo, Murilo Portugal. A política não sofreria qualquer inflexão. Essa opção, no entanto, não significa um quadro de tranqüilidade para Lula. Os que são contra essa alternativa lembram que Portugal não tem identidade ideológica e sequer amizade com o presidente e tampouco diálogo junto ao PT. Seria um estranho no ninho exposto às pressões, principalmente da ministra Dilma que assumiu o discurso da necessidade de aumento de gastos no ano eleitoral, apesar de ressalvar que não defende o descontrole da inflação. Portugal bate de frente se quiser manter a expectativa de superávits primários (economia do governo para pagar os juros) crescentes nos próximos anos. Neste cenário, não caberia nenhum outro nome do ministério da Fazenda. O senso comum é o de que Dilma oferecerá resistência a qualquer tentativa de ampliação do controle de gastos.
Cenário – 4 – Palocci e Murilo Portugal deixam o ministério
Trata-se de um cenário que vem crescendo no partido. A melhor opção nesse caso é a indicação do senador Aloizio Mercadante para o ministério da Fazenda. Aqui, Mercadante teria de "ir para o sacrifício" e abandonar o sonho de governar São Paulo. Os que defendem essa alternativa apostam que ele irá ser convencido, porque no partido não há nenhum outro nome que possa fazer a necessária inflexão na política econômica. As teses do senador são conhecidas: ele defende uma meta de inflação menos ambiciosa e uma redução gradativa das taxas de juros. Mercadante tem dito a assessores que "nem pensar" na possibilidade de abandonar a disputa por São Paulo. Nos últimos dias, ele tem sido cauteloso e reafirmado a tese preliminar de que Palocci não sai. Caso se confirme esse cenário, não é certo o afastamento do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Os dois se entendem muito bem. Inclusive, o senador atuou com discrição e atuou no Senado em defesa de Meirelles quando o presidente do BC esteve na berlinda e, durante meses, envolvido em denúncias de prática de suposto crime contra o mercado financeiro e lavagem de dinheiro.
Cenário 5- Palocci sai e Paulo Bernardo assume
Esta hipótese é considerada frágil pelas próprias dificuldades do ministro do Planejamento e Gestão, Paulo Bernardo. Embora existam os defensores da transferência do ministro para a Fazenda. Bernardo já mandou avisar que esta alternativa "não existe". Os que não apostam na mudança de Bernardo afirmam que ele também é vitrine e está envolvido nas denúncias de que também sua campanha foi irrigada por recursos da DNA, do publicitário Marcos Valério. Além disso, ele quer manter sua carreira política.