O plano de Wanderson Romão, de Vitória, no Espírito Santo, era comemorar seu 33° aniversário ao lado do filho de seis anos, que mora no Rio de Janeiro com a mãe. Mas, o que era expectativa virou uma grande dor de cabeça para o professor: ele viu o filho “desaparecer” em um voo da companhia aérea Gol. A criança deveria ter sido entregue no Aeroporto Eurico de Aguiar Salles, mas, por uma “falha no procedimento”, veio parar no Afonso Pena, em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. A companhia se desculpou pelo “erro pontual” e afirmou que a criança não correu riscos.
O caso ocorreu na sexta-feira passada (2). No Facebook, Romão conta que comprou passagens de ida e volta com a opção “criança desacompanhada”, pelo voo 2160. O fato de o menino precisar de supervisão por viajar sozinho custou um extra de R$ 100 aos bolsos do pai, que pagou um total de R$ 750 pelos serviços.
Por volta das 16 horas, a criança foi entregue pela mãe diretamente a funcionários da Gol no aeroporto do Galeão (RJ). O relato diz ainda que o menino portava, além das passagens e da identidade, a liberação judicial que permitia que ele viajasse sozinho apenas para o Espírito Santo, São Paulo e Rio de Janeiro, estados onde moram familiares. Era a primeira viagem desacompanhada do garoto.
“Quem fez a descoberta desse absurdo, fui eu, o Pai da criança, que ao notar o desembarque do vôo que chegava em Vitória as 18:20 h, percebi que meu filho não havia saído do avião e não estava presente no vôo 2160. Foi as piores horas da minha vida, pois percebi que meu filho havia desaparecido”[sic] , descreveu Romão nas redes sociais.
Sem entender o que estava ocorrendo, o professor procurou por ajuda junto aos funcionários da companhia aérea. Em mãos, ele tinha cinco e-mails que monitoravam a viagem do filho. Dois deles confirmavam a entrada da criança na aeronave. Como as respostas não chegavam, a Polícia Federal foi acionada, e o delegado chegou a entrar no avião, mas não localizou ninguém.
“Liguei para mãe para dar a notícia: “Joyce, a GOL sumiu com o nosso filho”. Veio então o desespero. Ela imediatamente foi para o Galeão tentar localizar o nosso filho. Ninguém estava acreditando, a vó da criança, eu, a mãe, meus amigos. O mundo caiu! Veio à tragédia de Chapecó imediatamente em minha cabeça”[sic] , relatou o pai, que, uma hora após a chegada prevista, ficou sabendo que o menino estava no aeroporto da região metropolitana de Curitiba.
“Ele fez o voo sem nenhuma pessoa ao lado da cadeira. Não havia autorização judicial para ele ir ao Paraná, apenas RJ, ES e SP. O que era para ser um vôo de 45 min se transformou em um vôo de 1 h e meia e em um filme de terror ! A criança estava com medo, havia chorado durante o voo de ida. Lembra do acompanhante da GOL e da taxa extra? não existia acompanhante. Não tinha notícias do meu filho. Não consegui falar com ele. Aliás em nenhum momento, alguém a GOL me ligou de Curitiba para eu falar com o meu filho. E olha que existe um telefone pendurado em seu pescoço” [sic], desabafou o pai nas redes sociais.
No mesmo relato, Romão diz que a “opção” da Gol para reparar o problema foi que a criança viajasse para Vitória em um voo com nova conexão no Rio de Janeiro. “Decidi pela vida do meu filho, que ele ficasse no RJ, sem conexão”, disse o professor. A reportagem tentou contato direto com ele, mas não havia obtido retorno até o meio-dia desta segunda-feira (5). Na foto do post, o Romão aparece segurando um cartaz que diz: “meu filho não é mala para ser extraviado”. Ao lado dele, peças da árvore de natal que ele tinha prometido montar com a criança.
Outro lado
Por meio de nota encaminhada por sua assessoria de imprensa, a Gol diz reiterar “o pedido de desculpas ao cliente Wanderson Romão, ao menor, sua mãe e seu familiares pela falha no procedimento de embarque, ocasionando a troca do voo”.
A companhia informou que a criança não correu riscos e que permaneceu o tempo todo assistida pela tripulação e por colaboradores “tanto do Galeão quanto de Curitiba, até retornar aos cuidados de seus familiares”.
A empresa tratou o caso como um “erro pontual”, disse que “medidas estão sendo adotadas para que situações como essa não voltem a ocorrer”, mas não explicou em detalhes que tipo de postura foi adotada especificamente em relação ao caso do professor de Vitória.
Em um vídeo divulgado pelo Facebook, Sérgio Quito, vice-presidente de operações da Gol, veio a público pedir desculpas. Ele conforma o embarque errôneo e argumenta que em nenhum momento a criança ficou desassistida.
“Eu também gostaria de enfatizar que estamos muito desapontados, todos nós da Gol”, declarou Quito.
Procurada, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), órgão que regulamenta as atividades da aviação civil no país, ressaltou o serviço de acompanhamento de menores de idade oferecido pelas companhias aéreas é opcional, ou seja, a empresa pode cobrar livremente por este serviço ou se recusar a oferecê-lo. A assessoria de imprensa do órgão disse que vai checar ainda nesta segunda se existe ou não a possibilidade de se abrir um processo administrativo para apurar a ocorrência.