O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, disse nesta segunda-feira (16) que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) estuda a revisão do atual critério para a promoção de juízes, que privilegia a antiguidade e o merecimento dos magistrados. Para Mendes, mais do que tempo de serviço e merecimento, é fundamental possuir vocação para assumir algumas funções mais “sensíveis”. “Não é razoável que um juiz da execução criminal nunca tenha visitado um presídio”, disse o ministro, após reunir-se com a diretoria da Fundação da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq).

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O tema é polêmico e costuma gerar rachas entre associações de classe que representam magistrados em todo o País. Segundo o ministro, a resolução que o CNJ fará sobre o tema chama a atenção para que haja sensibilidade dos tribunais em relação a temas considerados delicados, como a execução criminal e a infância e juventude. “Nós estamos verificando que alguns juízes de execução criminal não são aqueles mais vocacionados para a atividade. Foram promovidos pelas razões normais, regras da carreira, mas nós estamos sugerindo que os próprios Conselhos de Justiça de cada Estado façam a avaliação tendo em vista esse perfil”, acrescentou.

O presidente do STF detalhou o perfil dos magistrados que considera adequados para julgar os temas avaliados como sensíveis. “Nós precisamos de pessoas que conheçam claramente o tema, que se interessem, fiscalizem os eventuais abusos, que tenham um papel realmente de gestor, que recusem, por exemplo, os abusos de direitos humanos que se perpetram, que se articulem com o tribunal e as autoridades locais, e que eventualmente tenham até a coragem de dizer, por exemplo, que não mais vai haver determinado tipo de condição que pode levar ao trancamento e ao encerramento de uma unidade prisional”, exemplificou.

A avaliação do ministro em relação aos juízes de Varas de Infância e Juventude recebeu apoio da diretoria da Fundação Abrinq. Segundo o presidente da entidade, Synésio Batista da Costa, as varas estão presentes em apenas 4% dos municípios brasileiros. Costa ressaltou também que os juízes costumam ser intransigentes ao julgar os chamados pequenos delitos e encaminham jovens a unidades de internação que abrigam menores que cometeram crimes graves. Mendes afirmou que o CNJ vai cobrar dos tribunais agilidade na implantação de Varas da Infância e Juventude nas condições adequadas.

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Nivelamento

Mendes afirmou ainda que percebe que há desnível entre a Justiça Federal e a Justiça Estadual. Segundo ele, até mesmo em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, o Estado mais rico da federação, o problema existe e envolve desde a alocação de recursos até a informatização do sistema. Em Teresina (PB), Mendes disse ter encontrado varas que não possuem a menor condição de funcionar. “Realmente fiquei chocado”, afirmou. Segundo ele, isso desmotiva os juízes estaduais.

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“Talvez tenha havido mais investimentos no âmbito da Justiça Federal do que na Estadual, mas nós percebemos a falta, talvez, dos recursos tecnológicos adequados. Por exemplo, na questão da informatização, a Justiça Federal hoje está muito mais avançada do que a Estadual”, afirmou. “No que diz respeito a recursos humanos, há muitas reclamações no âmbito da Justiça Estadual.”

Mendes explicou que o CNJ pretende elaborar uma proposta de nivelamento entre os tribunais com o objetivo de atingir um padrão mínimo. “Aí passa por alocação de recursos, recursos humanos, boa distribuição dos recursos que são dados aos tribunais, varas e comarcas do interior. É preciso discutir todos esses temas”, reiterou.