Na acareação realizada pela CPI dos Bingos ontem, João Francisco e Bruno Daniel, irmãos do prefeito assassinado de Santo André (SP) Celso Daniel, repetiram a acusação de que o chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, confessou que transportava malas com dinheiro arrecadado com corrupção na prefeitura daquela cidade. Teria, inclusive, levado certa vez uma mala com R$ 1,2 milhão para o então presidente do PT José Dirceu no seu Corsa preto.
João Francisco, que rivalizou mais com Carvalho, foi irônico ao contar detalhes do encontro em que o assessor de Lula teria feito tais revelações. Disse que ele comeu vários pedaços de bolo de aipim na sua casa e perguntou a Gilberto se não se lembrava de ter gostado tanto do bolo. Lembrou também de uma conversa dentro do próprio carro de Gilberto quando o petista o levava para o apartamento do advogado Luiz Eduardo Greenhalgh. Nessa hora, voltou a ser irônico e disse que a única testemunha era o tal Corsa preto.
Teriam sido no total, segundo os irmãos, três conversas em que Gilberto falava do esquema de corrupção: a primeira no sábado da missa de sétimo dia com o irmão, a segunda na casa de João Francisco e a terceira no carro do Gilberto. João Francisco desafiou Gilberto a passar por um detector de mentiras. Em resposta ao senador José Jorge, Gilberto disse que não tem medo de se submeter ao teste, embora não conheça o método.
O tempo todo se apresentando como defensor da imagem de Celso Daniel, Gilberto acusou os irmãos de estarem sendo usados politicamente, acusou João Francisco de defender os interesses da empresa de ônibus Guarará na prefeitura de Santo André, de ter tentado arrumar um emprego para a filha na prefeitura e de não reconhecer como tal a filha do ex-prefeito com Ivone, namorada de Celso Daniel.
Segundo Gilberto, a frieza dos irmãos em relação à filha de Daniel lhe causa uma tristeza no coração. Bruno respondeu que a criança nasceu quando Ivone era casada com outra pessoa, que registrou a criança e reivindica a paternidade dela. O assunto, segundo Bruno, está sendo tratado num processo que tramita em segredo de Justiça. Num dos momentos em que mostrou maior indignação, Gilberto chegou a gritar que Celso Daniel não teria guardado nunca sacos de dinheiro em casa, como acusou uma ex-empregada do prefeito, que disse em depoimento ao Ministério Público de São Paulo ter visto um saco de lixo com dinheiro na casa do petista: "Quem conhecia o Celso Daniel sabe, pelo amor de Deus, que ele não guardaria sacos de dinheiro em casa!", protestou Gilberto, num dos momentos em que se exaltou na CPI. "Todos que tinham um mínimo de proximidade com Celso Daniel sabem que ele seria incapaz de um gesto assim…", disse.
A acusação de que os dois irmãos estavam sendo instrumento da oposição irritou os parlamentares, em especial o presidente da CPI, o pefelista Efraim Morais (PB). Gilberto havia dito que eles estariam a serviço de interesses políticos e o presidente o interpelou para saber que interesses seriam esses. O líder do PT, Henrique Fontana (RS), que estava no plenário, tentou sair em defesa de Gilberto, mas Efraim o impediu de falar porque não era senador e a CPI é só do Senado.
Alvaro Dias lê gravações da polícia
Brasília – Após muita reclamação dos senadores da base aliada, o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) fez ontem, na CPI dos Bingos suas perguntas ao secretário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho. Dias citou trechos de gravações feitas pela Polícia Federal durante a investigação do assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel. Os senadores da base não queriam que o tucano usasse as gravações em suas perguntas.
Dias mencionou trechos das fitas que já haviam sido divulgados pela imprensa, como uma conversa em que Carvalho diz a Sérgio Gomes da Silva, o Sombra (que era chefe de segurança de Daniel) que é preciso discutir com José Dirceu uma tática em relação às investigações. Em outro momento, Sérgio Gomes, que dirigia a Pajero abordada pelos seqüestradores de Daniel, diz que Gilberto Carvalho tem que "armar alguma coisa", após um laudo mostrar que a porta da caminhonete não poderia ter aberto por acidente. Dias citou também um trecho em que uma mulher é orientada a dizer que a calça com que o corpo de Celso Daniel foi encontrado era a mesma que o prefeito vestia antes de ser seqüestrado.
Carvalho respondeu que lamentava que os trechos fossem citados fora de contexto. Afirmou que a discussão de tática se referia a uma crítica à linha de investigação adotada pela polícia, que estaria se concentrando em investigar pessoas próximas a Celso Daniel, em vez de ir atrás dos "verdadeiros assassinos". Um dos irmãos de Celso Daniel, João Francisco, reafirmou que Gilberto Carvalho ajudou a encobrir as provas da corrupção na administração petista em Santo André e afirmou que as investigações da comissão parlamentar de inquérito são importantes para demonstrar isso. Gilberto Carvalho disse que rejeita "veementemente" a acusação.