O general de Exército Walter Souza Braga Netto, comandante militar do Leste, assumiu um cargo que lhe impôs um novo desafio pessoal, prestes a completar 61 anos. Avesso à exposição, ele foi escolhido pelo presidente Michel Temer como chefe da intervenção federal do Rio, uma medida inédita, que lhe concedeu poderes de governador do Estado na área da Segurança Pública, e o alçou ao centro de uma crise que atrai atenção internacional.
Convocado às pressas, Braga Netto falou pouco até agora. Disse haver “muita mídia” na situação da segurança fluminense, classificada por ele como “grave”, mas não “fora de controle”. A primeira aparição como interventor, fora dos muros do quartel, confirma o que dizem seus colegas oficiais e subordinados mais próximos: o general não gosta de holofotes e tem dificuldade em lidar com a imprensa. Seus auxiliares no CML citam que, mesmo à frente de operações durante a Olimpíada, esquivou-se de entrevistas. Costumava queixar-se de ser fotografado.
O interventor aborreceu-se na semana passada pela retomada de um caso que abalou sua família. Nos anos 1980, o irmão Ricardo Braga Netto, ainda tenente da Marinha, foi assassinado quando tentou intervir em um assalto na Ponte Rio-Niterói. O caso reavivou na família uma dor esquecida.
Braga Netto nasceu em Belo Horizonte e cumpre o “perfil mineiro”. Prefere o trabalho ao verbo. Determinou a seus subordinados e pediu aos familiares discrição nas redes sociais. “Ele não quer virar meme”, comenta reservadamente um oficial próximo. Outro motivo para o resguardo é a preocupação com a segurança pessoal e de seus familiares, já que a intervenção com emprego das Forças Armadas desafia interesses escusos do crime organizado e de paramilitares milicianos e tira poder das corporações policiais.
O general ainda reverbera a preocupação das cúpulas de Exército, Marinha e Aeronáutica com o emprego de seus quadros como força de segurança pública, seja pelo tipo de preparo diferenciado do treinamento policial urbano, por lacunas jurídicas ou pelo risco de degradação da tropa. É tido como capaz de reconhecer talentos e limitações próprias e de sua equipe e por não tomar decisões tempestivamente. Prefere ouvir diversas opiniões e está decidido a convocar civis e a academia para traçar planos.
Braga Netto entrou no Exército em 1974. Em 1994, ainda como major de Cavalaria, apresentou na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme) uma monografia com propostas sobre como aproveitar melhor o pessoal na carreira militar, com foco nos oficiais. Em uma espécie de prognóstico, dizia que “a sociedade, dentro do enfoque da qualidade total, cada vez mais cobrará da instituição a eficácia na consecução de sua destinação fim” e propunha a especialização, por causa das mudanças tecnológicas. “O militar, em particular, deve ser orientado para a função em que apresente um melhor rendimento em prol da instituição. O Exército do ano 2000 necessitará, mais do que nunca, de uma otimização de seus valores humanos”, escreveu.
Rotina
Integrado à rotina carioca, o general gosta de praia e corre na orla. É morador de Copacabana, bairro litorâneo da zona sul do Rio, possui um apartamento na Barra da Tijuca, zona oeste, a poucas quadras de uma das faixas de areia mais badaladas da capital fluminense. Um dos hobbies do interventor é o vôlei de praia. Descrito como respeitoso, bem humorado e afável, o general leu recentemente o livro Soldados da Pátria, que conta a história do Exército Brasileiro entre 1889 e 1937.
Da carreira internacional – foi observador militar das Nações Unidas no Timor Leste, e adido na Polônia e nos Estados Unidos – trouxe a tradição dos militares americanos de trocar e colecionar medalhas. Eles carregam uma espécie de medalhão com o emblema do local onde estão servindo para presentear os visitantes. Braga Netto exibe em seu gabinete a coleção de medalhões que acumulou de diversos países. Quem passa por sua sala, no Palácio Duque de Caxias, costuma ganhar uma do CML, fortaleza de onde pretende continuar despachando. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.