Gasto com alimentos recua, mas cresce com educação

O gasto médio das famílias brasileiras com alimentação diminuiu ao longo dos anos, de acordo com análise feita pelos pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP), que lançam nesta quinta-feira (21) o livro "Gastos e Consumo das famílias brasileiras contemporâneas".

O levantamento mostra que 22,16% da despesa corrente familiar era gasta com alimentação nos anos de 1987/1988, de acordo com dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse gasto diminuiu para 20,45% na POF de 1995/1996 e para 18,70% na POF de 2002 e 2003.

Em contrapartida, as despesas com transporte e educação aumentaram no mesmo período. O setor de Transportes, que estava em 13,08% do orçamento em 1987/1988 caiu para 12,07% em 1995/1996, mas voltou a subir em 2002/2003, para 13,12%. Educação, que estava em 3,16% em 1987/1887, passou para 4,26% em 1995/1996 e para 5,50% em 2002/2003.

Transporte e educação

De acordo com Tatiane Menezes, professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e uma das organizadoras do livro, isso se deve ao aumento dos preços relativos em áreas como transportes e educação no período, muitas vezes acima da inflação. "Por outro lado, as despesas com alimentação diminuíram não porque a população está comprando menos comida, mas sim porque a inflação sob controle e a estabilidade econômica reduziram os preços dos alimentos e, dessa forma, o peso desse gasto no orçamento familiar também diminuiu", explicou. "De forma geral, a vida da população melhorou", acrescentou.

A estabilidade econômica, os juros mais baixos, a abertura econômica, a redução de preços relativos, a melhoria da renda e aumento do acesso ao crédito permitiram que a população mais pobre tivesse mais acesso a serviços bens de consumo duráveis, com destaque para os produtos relacionados à informática, que até então eram restritos às camadas mais abastadas da população.

"Isso permite que o brasileiro de um modo geral possa dispor dos bens essenciais, como televisão e geladeira, e isso se reflete na melhoria do bem-estar dessa parcela da população", completou o professor da FEA e pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), Heron do Carmo.

Para o professor, isso mostra que a renda não é o indicador mais importante ao avaliar as condições de vida da população. "A renda melhorou pouco, mas não diz tudo sobre a melhora de bem-estar. É importante avaliar não só a renda, mas também o consumo efetivo de bens e serviços", destacou.

Já a classe média não pôde contar com a melhoria das condições de vida observada nas camadas mais pobres da população. O aumento dos preços relativos em educação e transportes, por exemplo, refletiu-se no crescimento dos gastos nessas áreas. "Os gastos com impostos também tiveram crescimento significativo para esta camada da população, já que o ICMS tem altas alíquotas em serviços como telefonia, energia elétrica e combustíveis", disse a professora Tatiane. Saúde, no entanto, apresenta uma particularidade que pode trazer alguma preocupação.

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