A morte anunciada agora se consumou. O novo acordo ortográfico, obrigatório desde o dia 1.º, sepultou o trema, além de acentos e hifens de centenas de palavras. Se a maioria nem notou a diferença, os quase 26 mil candidatos da 2.ª fase da Fuvest, que começa hoje, devem ficar atentos. O exame de acesso à Universidade de São Paulo (USP) será o primeiro grande vestibular do País em que apenas a nova grafia será aceita.

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Hoje, 10, haverá a prova de Língua Portuguesa e redação e a exigência ortográfica será preocupação extra para os candidatos, alfabetizados no modelo antigo – principalmente os de cursos mais concorridos. Segundo especialistas, a reforma no idioma não deve ser motivo de dor de cabeça: altera apenas 0,8% das palavras usadas no Brasil.

Outro motivo é a familiaridade dos alunos com as novas regras. Desde 2009, o Brasil viveu um período de transição, em que as duas ortografias eram permitidas e usadas. Inicialmente, essa etapa terminaria em 2013, mas o governo federal estendeu o prazo para 2016.

Com isso, nos últimos anos, a maioria dos colégios, cursos pré-vestibulares e materiais escolares já seguia o novo padrão. A Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares (Abrelivros) estima que “100%” das obras didáticas e a maioria das literárias estão adaptadas.

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Mesmo para os mais velhos, a mudança não será surpresa. “Esses candidatos têm mais dificuldades. Mas, como a imprensa adota a nova ortografia, quem lê jornais e revistas está habituado”, pondera Eduardo Calbucci, supervisor de Português e Redação do Cursinho Anglo.

Durante a preparação, vestibulandos recorreram a cartilhas e aplicativos de celular para decorar as normas. “Português nunca foi meu forte”, reconhece José Inácio da Silva Neto, de 20 anos, que tenta Medicina na USP pela terceira vez. “A dificuldade que terei com o acordo ortográfico é uma que os outros também terão”, prevê.

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Além da Redação, a Fuvest obriga o candidato a escrever mais: traz questões abertas das disciplinas do ensino médio. Em alguns pontos, para o jovem, a mudança linguística até ajudou. “Eu errava e me esquecia de colocar acentos. Agora que muitas palavras deixaram de ter, fica mais fácil”, afirma.

O hífen, segundo professores, costuma ser o grande vilão. “Tiraram o hífen em umas palavras, em outras passou a ter. É confuso”, reclama José. O trema, antes da reforma, já era ignorado pela maioria dos alunos. As três letras reincorporadas ao alfabeto – k, y e w – também já eram de uso cotidiano.

Na ponta da língua. Marcos Antônio Marinovic Júnior, de 22 anos, usa estratégias para gravar as regras. “Quando você memoriza um exemplo, lembra outras palavras parecidas e fica intuitivo”, afirma ele, que também tenta entrar em Medicina pela terceira vez. “E, se esquece a grafia de uma palavra, dá para pensar em um sinônimo para colocar no texto.”

Júnior admite ter “um pouco de medo” da nova ortografia. “No colégio, só peguei essas mudanças no último ano do ensino médio. Eu tive de me adaptar.” Ele acredita, porém, que a boa preparação mantém o candidato no páreo. “Em uma redação bem coerente, um pequeno erro de gramática não é tão levado em conta para a nota”, afirma.

O deslize ortográfico isolado, de acordo com especialistas, não é tão significativo no resultado da Fuvest. A reincidência de erros ou a variedade de equívocos é que penaliza o estudante. Para prevenir esse problema, recomenda-se uma revisão cuidadosa.

“O aluno deve fazer todo o possível para não errar. Em carreiras mais disputadas, isso pode fazer diferença”, aconselha Héric José Palos, professor de Português do cursinho Etapa. “No vestibular, o candidato não compete com os outros, mas com ele mesmo”, acrescenta.

Além dos vestibulares, o novo acordo se tornou exigência em concursos públicos – alguns têm cobrança bem mais rígida que as universidades em ortografia. As novas normas também já são obrigatórias em Portugal e Cabo Verde. Outros cinco países lusófonos assinaram o tratado e estão em processo de adaptação. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.