Independentemente de quem ou quantos tenham sido derrotados nesta disputa de 2002, até os tucanos muito próximos de Serra admitem que ele sai das urnas com um espaço político muito claro. “Ele tem a importância de um candidato que conseguiu fazer bonito na disputa, mas não tem uma liderança pessoal forte no PSDB”, diz um dirigente tucano, ao admitir que a construção política em torno da candidatura Serra pecou pela fragilidade.
Ninguém tem dúvidas de que o professor José Serra receberá fartos convites para dar aulas e palestras bem remuneradas em qualquer parte do Brasil e do mundo. Mas, antes, o senador terá de traçar seu caminho político futuro, considerando duas derrotas importantes: para prefeito de São Paulo em 1996 e agora, para presidente. E isto, adverte o parlamentar, implica repensar o estilo pessoal. Afinal, conclui, a campanha presidencial mostrou Serra por inteiro, com o preparo e as virtudes que tem, mas também com as deficiências políticas.
Admirador do candidato derrotado, o dirigente tucano prevê uma transição difícil na vida do amigo que encerra o mandato de senador em fevereiro de 2003. “O Serra sempre será forte enquanto estiver à frente de um cargo importante, por sua firmeza e competência”, resume, reconhecendo que a força política do tucano decorre de sua eficácia na execução das tarefas que lhe são atribuídas. Foi assim no Congresso, no governo estadual e nos Ministérios do Planejamento e da Saúde, nos quais Serra soube agregar e somar. Resta saber que tarefa o PSDB irá lhe conferir agora.
Serra conquista respeito
AE
O senador José Serra (PSDB-SP) perdeu 8 quilos e a corrida presidencial para o PT de Luiz Inácio Lula da Silva, mas sai da disputa com o respeito e a admiração de eleitores e do comando da campanha tucana. “Se o Serra não tivesse sido o guerreiro que foi e não tivéssemos mais acertado que errado em todo este tempo, teríamos sido o Dr. Ulysses desta eleição”, resume o coordenador do programa de governo do candidato tucano e prefeito de Vitória, Luiz Paulo Vellozo Lucas.
Ele se refere-se ao ex-todo- poderoso presidente do Congresso, da Assembléia Nacional Constituinte e do PMDB deputado Ulysses Guimarães (SP) que, mesmo na condição de parlamentar mais importante e articulado do Congresso, chegou ao fim do primeiro turno da disputa presidencial de 1989 na constrangedora posição de lanterninha. O mesmo Ulysses que deu o título de musa do PMDB à deputada Rita Camata (ES), vice de Serra, terminou a corrida sucessória em 6.º lugar, com 3,5% dos votos válidos.
Campanha
Passou-se uma gestação – exatos nove meses e três dias – desde o 23 de janeiro em que o então ministro da Saúde José Serra fez a primeira viagem ao Nordeste na condição de pré-candidato ao Palácio do Planalto, antecipando, a contragosto, a disputa presidencial. E a despeito da má fama de antipático e de político que não agrega apoios em torno de si, tanto os serristas mais leais ao candidato quanto os que lhe são mais críticos concordam em um ponto: Serra foi derrotado pelo desejo subjetivo de mudança que acabou produzindo a onda Lula em todo o Brasil.
Não é por acaso que o presidente da República ficou fora do programa de televisão de seu candidato no segundo turno, mesmo depois de o apresentador Gugu Liberato ter ido ao Palácio da Alvorada há dez dias, especialmente para gravar a participação de Fernando Henrique Cardoso no horário eleitoral. Os resultados das pesquisas qualitativas que balizaram toda a campanha mostraram que 80% do eleitorado que negava o voto a Serra em qualquer hipótese rejeitavam, na verdade, mais quatro anos de governo Fernando Henrique.
“Desastre”
Ainda assim, dirigentes tucanos criticaram até o último instante os marqueteiros da campanha e o próprio candidato por não terem feito bom uso do sucesso da rede de proteção social do governo nos programas eleitorais. “Esta ambigüidade em relação ao governo é um desastre”, criticavam. “A rejeição do eleitorado é ao governo, e não a mim”, retrucava Serra.