Funai negocia libertação de policiais

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Índios exigem a presença de
Lula e do ministro Thomas
Bastos para liberar os reféns.

Boa Vista – Uma equipe formada por representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai), Polícia Federal e Exército viajou ontem para negociar a libertação dos quatro policiais federais mantidos reféns por índios na comunidade Flexal, localizada no município de Uiramutã, em Roraima, disse o administrador regional da Funai, Gonçalo Teixeira dos Santos. ?A informação que nós temos é de que os reféns não foram maltratados. Simplesmente, não deixaram eles voltarem ao posto de fiscalização?, disse Teixeira. O grupo de indígenas é contrário à homologação em área contínua da reserva Raposa Serra do Sol. Segundo o administrador, o grupo é pequeno, mas quer ser ouvido pelo governo.

A decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de homologar a demarcação da Raposa Serra do Sol em terras contínuas agradou a indigenistas, ambientalistas e missionários no Brasil e no exterior, mas não acabou com a antiga disputa pela ocupação de 1,7 milhão de hectares de lavouras, pastagens e serras da rica e paradisíaca reserva de 16.484 índios macuxi, uapixanas e tuarepangs, no norte de Roraima. Um grupo de grandes produtores de arroz, de índios ligados à Sociedade de Defesa dos Índios de Roraima (Sodiur) e de políticos está organizando um levante contra a retirada de não-índios da reserva.

Os líderes do movimento recorreram à Justiça e ao Congresso Nacional contra o modelo de demarcação estabelecido pelo governo federal. Mas, em paralelo à batalha jurídica e política, alguns setores do movimento já desencadearam o processo de sabotagem da demarcação em terras contínuas. Depois de cortar a energia elétrica de Placas, um vilarejo dentro da reserva, e de prender quatro policiais federais na sexta-feira, ameaçam bloquear as estradas de acesso a Boa Vista, como fizeram por cinco dias em 2003.

?Com seis caminhões e tratores se pára qualquer rodovia?, afirma o fazendeiro Paulo César Quartieiro, prefeito de Pacaraima, município de 3,7 mil habitantes na fronteira com a Venezuela. Os líderes da Sodiur, uma organização indígena vinculada ao governo de Roraima, também estão dispostos a boicotar a homologação da Raposa Serra do Sol em terras contínuas. A Sodiur quase não aparecia nos debates públicos anteriores à homologação, mas tem uma força nada desprezível: representa cerca de cinco mil índios macuxis, ou seja, um terço dos índios da reserva.

O presidente da Sodiur, José Novaes Macuxi, é favorável à permanência de fazendeiros, comerciantes e vilas de não-índios dentro da reserva. Para ele, a interação de índios e não-índios vai garantir prosperidade. ?Quero comida e casa boa. Hoje tenho um fusca, mas quero ir pra aldeia de Ranger?, afirma Novaes, ao volante de um Fusca amarelo, fabricado em 1979, mas de olho em uma caminhonete último tipo.

De camisa social, calça comprida e cinto, o vice-presidente da Sodiur, Abel Barbosa Macuxi, ex-cacique da aldeia Flechal, tropeça no português quando fala de suas aspirações de plantador de feijão, mas também sonha com comida farta, caminhonetes de luxo e mordomias típicas da vida urbana. O ex-cacique planeja comprar em breve uma Hillux. Para ele, índio não é bicho para viver isolado numa reserva: ?Não quero ficar como animal dentro de um círculo?.

Governador lidera resistência contra reserva

Boa Vista – O coordenador do Conselho Indigenista de Roraima (CIR), Marinaldo Justino Trajano Macuxi, desconfia do discurso da Sociedade de Defesa dos Índios de Roraima (Sodiur). Segundo ele, a entidade é contra a homologação em terras contínuas por ser ligada ao governo local. A Sodiur é financiada em boa parte com recursos do governo estadual. Para o governador de Roraima, Ottomar Pinto, não há dúvidas de que a demarcação em terras contínuas da Raposa Serra do Sol, de outras reservas e parques ambientais, resultam de uma conspiração estrangeira pelo domínio da Amazônia. A demarcação seria o ponto de partida para a transformação de um trecho da Amazônia, com seus rios, florestas e riquezas minerais, num território internacional administrado pela ONU. ?Essa decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva se alinha com alguns países, como a Inglaterra, os Estados Unidos, a Alemanha e o Canadá, que desenvolvem uma estratégia para criar dificuldade ao povoamento da Amazônia?, afirma o governador.

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