Fritura na reforma azeda o governo

Brasília – Após quase quatro meses de intensas negociações nos bastidores, o anúncio da reforma ministerial deixou exposto o lado mais frágil do governo: o estilo Lula de fritar. Com o fim das negociações, ministros e assessores palacianos temiam pelas seqüelas na base e até no PT. A avaliação é que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demorou muito para concluir a reforma e, nesse período, muita gente ficou exposta.

No Planalto, ninguém dimensiona o tamanho do trauma. Até porque, lembra um ministro petista, as mágoas não estão restritas aos que deixaram o governo. A fritura atingiu ministros que ficaram no governo, os que entraram na reforma e até mesmo políticos aliados que foram cotados como ministeriáveis. “Vamos ter muitos problemas. Uma reforma ministerial sempre deixa seqüelas. Nesse caso, a frigideira ficou acesa por muito tempo”, avalia um ministro petista.

Segundo um interlocutor de Lula, o presidente demonstrou em diversos momentos da negociação sua preocupação em não expor antigos companheiros. O momento mais dramático aconteceu na quinta-feira à noite. Lula ficou com os olhos marejados ao fim da conversa com o então ministro do Trabalho, Jaques Wagner.

Lula queria mudar o amigo e ministro para o comando do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e, com isso, acomodar o PMDB. Na conversa, Wagner deixou claro que não queria mudar e entregou o cargo. “Tudo bem, galego”, respondeu Lula.

Naquela noite, o presidente saiu do Planalto sem esconder sua angústia com a reforma. Ele avisou que havia chegado ao limite e que não demitiria o amigo Wagner. Quase que a reforma idealizada pelo presidente implodiu naquele momento. Somente na sexta-feira, após um almoço no Palácio da Alvorada, ele conseguiu convencer Wagner a mudar de cadeira. Outros, porém, saíram humilhados. O caso mais explícito, na avaliação do Planalto, foi o do antigo titular da Educação, senador Cristovam Buarque (PT-DF), que soube de sua demissão por telefone, em Portugal.

“Cristovam ficou profundamente magoado. Ele está perplexo. Lula ainda teve a infelicidade de insistir para que ele fosse à Índia”, ponderou um amigo do ex-ministro, que ouviu o desabafo de Cristovam. Quem também engoliu em silêncio a demissão foi a ex-ministra Benedita da Silva (Assistência Social). Ela confidenciou que ficou muito incomodada com a forma que foi demitida. “Esperava uma conversa mais franca com Lula na hora de minha demissão. Mas nem isso foi possível porque ele fez questão de deixar na sala o Palocci”, desabafou Benedita.

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