Um dos mais importantes parques de São Paulo, o Villa-Lobos, no Alto de Pinheiros, zona oeste, foi o primeiro a ter concedidos para a iniciativa privada os serviços de alimentação, locação de bicicletas e estacionamento. Apesar das queixas iniciais dos usuários pela cobrança para estacionar, houve aumento de 30% na frequência, afirma o secretário estadual do Meio Ambiente, Ricardo Salles. A seguir, Salles fala sobre problemas ambientais e o desejo de privatizar unidades do Instituto Florestal

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No fim de 2016, a secretaria iniciou a concessão dos serviços de alimentação, locação de bicicletas e estacionamento dos parques urbanos da capital. Por que o governo decidiu mexer na concessão e cobrar estacionamento?

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Os parques urbanos têm custo de manutenção alto. O Villa-Lobos, por exemplo custa R$ 1 milhão por ano com manutenção, segurança, portaria, cuidado com área verde. É o mais caro dos estaduais. A licitação começou em R$ 5,8 mil por food truck por mês, e agora que as primeiras licenças venceram houve lances de até R$ 12 mil. Para locação de bicicletas, o valor aumentou substancialmente, de R$ 7 mil para R$ 140 mil. Por fim concedemos o estacionamento, que foi a grande polêmica. A empresa que venceu, com lance de R$ 128 mil por mês, reformou toda parte de marcação de piso, iluminação, monitoramento por câmera e catraca eletrônica. O usuário paga metade do que custa a Zona Azul, mas tem segurança.

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Quando o estacionamento passou a ser cobrado houve críticas por parte dos frequentadores, especialmente daqueles que utilizam o equipamento diariamente. Houve alteração na frequência?

Desde dezembro, quando os food trucks entraram, houve um aumento gradual da frequência na ordem de 30%.

Quanto o setor privado já investiu no parque?

Estamos falando de quase R$ 1 milhão que o governo deixou de colocar de recursos, talvez até não tivesse para investir neste momento. Além das concessões, estamos reformando os equipamentos. A Adidas investiu R$ 300 mil na reforma de uma quadra de futebol society e a Chutelaria, um contêiner que empresta chuteira para as pessoas jogarem. O Santander colocou uma grande academia, de ponta, onde há aula de ginástica, de ioga, que custou R$ 200 mil. Também investiu outros R$ 180 mil nas miniestações de ginástica. A empresa que ficou com o estacionamento investiu R$ 400 mil em máquinas, pintura, cabines, monitoramento. E estamos fazendo os eventos, como festival de comida orgânica, festa junina e teremos o Cirque du Soleil, com grande arrecadação para o parque.

A resistência à publicidade nos parques diminuiu?

Acho que sim. O que temos feito é aumentar a presença do setor privado sem deixar que marcas, logos e anúncios interfiram na paisagem. Não vamos nem para o extremo de transformar o parque em um grande outdoor nem de vetar completamente a publicidade. Não queremos renunciar à participação do setor privado, que é uma participação saudável.

Por que o senhor vem defendendo a venda de parte das unidades do Instituto Florestal, que são usadas para produção de eucalipto e pesquisa?

As 34 áreas produtivas do Instituto somam 46 mil hectares – 0,5% do 1 milhão de hectares das áreas da Fundação Florestal, que são totalmente preservadas. Elas foram criadas na década de 30 para produzir e disseminar a produção do pinos e eucaliptos no Estado, e essa atividade não precisa mais ser incentivada. É um setor autossuficiente. São áreas que, do ponto de vista econômico, valem muito para o Estado: são avaliadas em R$ 700 milhões. Como o porcentual é mínimo se comparado à área da Fundação Florestal, não faz a menor diferença agregá-las, do ponto de vista de conservação. Das 34 áreas, 7 devem ser incorporadas aos municípios e transformadas em parques, para o lazer da população. Das 27 que sobram, vamos escolher as que têm vocação específica para pesquisa e conservá-las. As demais queremos transferir para o setor privado. Logicamente vamos descontar das áreas o que é Reserva Legal, o que é APP (Área de Proteção Permanente), o que são nascentes, porque isso tem de ser preservado, seja privado ou público, porque está no Código Florestal e é lei. Essas áreas têm um valor comercial de R$ 700 milhões, custam anualmente ao Estado, entre salários, manutenção e vigilância, R$ 58 milhões, e produzem, sob o ponto de vista de madeira, R$ 4 milhões (valor de 2016). Ou seja, não tem sentido. Se fosse uma empresa, já teria quebrado.

O senhor é investigado pelo Ministério Público por ter supostamente interferido em planos de manejo. Houve interferência?

Ninguém está fazendo nada do que não deveria ser feito. Há talvez uma dificuldade de entendimento, por parte de um grupo pequeno de promotores, de que o que estamos fazendo aqui na secretaria é em prol do meio ambiente. Temos uma visão pragmática, de respeitar a propriedade privada, a segurança jurídica, de manter um respeito institucional ao que está acontecendo no Estado, no setor produtivo, sobretudo. Não adianta criar uma situação à margem da realidade. Tenho tranquilidade de que não há nada de errado a ser coibido. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.