A herança a ser deixada por este governo para o próximo presidente “é positiva”, na avaliação do presidente do Banco Central, Armínio Fraga, à Comissão Mista de Orçamento. Ele acredita que, se não tivessem sido realizados os ajustes nas áreas cambial, fiscal, bancário, inflacionário e financeiro, o quadro econômico seria muito pior, “seria um verdadeiro caos econômico”.
Para ele, não há razão para esperar problemas na administração da dívida pública, se o País continuar sendo administrado de forma responsável. “E é esse o compromisso do presidente eleito, que, alias, já está tendo uma repercussão positiva no mercado”, afirmou.
Ele ressaltou ser importante observar a trajetória realizada até agora para “administrar bem essa coisa daqui para frente”. Lembrou as inúmeras crises que o Brasil enfrentou nos últimos dois anos. “Foi uma inacreditável seqüência de problemas”, disse. Ressaltou, porém, que, apesar de tudo, a taxa média de crescimento em 2001 e 2002 será de 1,5% ao ano. “Em um ambiente mais normal, acredito que a taxa de crescimento será capaz de surpreender positivamente.”
Sobre a decisão do governo de elevar juros, contrastando com a de outros países, como os Estados Unidos, que reduzem juros nos momentos de crise, explicou que países que não têm problemas de crédito aliviam os momentos de crise tomando crédito interno. “No Brasil, ainda não chegamos lá”, disse e defendeu a necessidade de “galgar crédito soberano para poder usar em momentos de crise”.
Armínio acredita numa “apreciação bastante grande” do câmbio, depois que o Brasil ultrapassar a atual crise de confiança. Isso ajudará, diz, a reverter a tendência de alta das expectativas de inflação e, desta forma, facilitar o cumprimento das metas de inflação.
Ele também comentou que não há nenhum problema em relação ao Fundo Monetário Internacional (FMI) quanto ao cumprimento das metas de inflação. “Eu só queria lembrar que as metas de inflação não são critério de desempenho no acordo com o FMI e não impedem, portanto, a liberação de recursos”, afirmou, lembrando ainda que já foi obtida uma certa folga em relação às metas de inflação.
O presidente do Banco Central declarou-se ainda a favor da colocação de alguns limites para a atuação do Banco Central, na proposta a ser discutida sobre a sua autonomia, por exemplo, da colocação de limites para exposição cambial, seja em intervenções diretas ou em operações de swap cambial. A idéia, afirmou, é obrigar o BC a fazer uma consulta às autoridades fiscais, se for obrigado a operar com limite de exposição cambial acima de um teto estabelecido por lei. O mesmo limite, afirmou, deve ser colocado nas operações de assistência financeira de liquidez.