Sem o mesmo fluxo de público que sobrecarregou a rede hoteleira da capital gaúcha em edições anteriores, começa hoje o Fórum Social Mundial (FSM) que irá discutir os dez anos do evento. A missão de fazer o balanço da experiência caberá a participantes que acompanharam seu nascimento, em 2001, durante um seminário em Porto Alegre, que se estenderá até sexta-feira. Ao mesmo tempo, seis cidades da Região Metropolitana terão atividades paralelas, como parte do formato descentralizado do FSM em 2010, com dezenas de fóruns regionais e temáticos ao longo do ano no Brasil e exterior.

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A descentralização mudou o caráter do FSM, que retorna a Porto Alegre, desta vez como evento regional, em lugar da reunião mundial que aconteceu na cidade em 2005. Segundo seus organizadores, essa característica explica o menor número de inscrições e são esperados cerca de 20 mil participantes. O fórum mundial deste ano será a soma de todos os eventos descentralizados, afirma Francisco Whitaker, integrante da Comissão Brasileira de Justiça e Paz, ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

O sentido do encontro também é outro. “Quando começamos, a globalização era uma arrogância só, parecíamos pregadores no deserto”, compara Sérgio Haddad, coordenador-geral da ONG Ação Educativa. A crise financeira aprofundada em setembro de 2008 tornou obsoleto o Fórum Econômico Mundial, dizem os participantes do FSM, sobre a cúpula realizada anualmente em Davos, na Suíça, à qual fez contraponto.

Intercâmbio

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O intercâmbio entre os fóruns chegou a ser direto, via teleconferência, em 2001, aproveitando a coincidência de datas entre os dois eventos. Durante uma hora e meia, doze representantes do FSM e quatro participantes da cúpula financeira mundial expuseram suas diferenças. De Porto Alegre, o público acompanhou o debate em telões e televisores espalhados pela Pontifícia Universidade Católica, local do fórum.

A chegada ao poder de líderes identificados com movimentos sociais também mostrou que isso não é suficiente para promover mudanças defendidas pelos idealizadores do FSM, avalia Whitaker. “Chegar ao poder pode ser decisivo para certas rupturas, mas não é imprescindível”, argumenta. No Brasil, exemplifica, a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva era condição para reverter prioridades, “mas vimos que ele não pode fazer tudo”. Whitaker avalia que o governo Lula foi “um sucesso” na redução das desigualdades, mas são necessários novos mecanismos que aprofundem este processo.

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Lula estará amanhã em Porto Alegre. Apesar da dificuldade de implantar propostas que ganharam visibilidade no FSM, como a taxação de transações financeiras, Whitaker avalia que não há frustração com os resultados. “É uma constatação de que as coisas são difíceis”, afirma, citando como exemplo a recente cúpula sobre mudanças climáticas em Copenhague, em dezembro. “Temos que insistir nestas e apresentar novas propostas”, recomenda.