Força-tarefa vai devassar documentos de José Janene

Uma força-tarefa conjunta da Polícia Federal e da Receita Federal vai analisar documentos e o conteúdo dos computadores apreendidos na quinta-feira, dia 18, no escritório do deputado José Janene (PP-PR) na residência de um casal de assessores dele, em Londrina, e em escritórios em São Paulo ligados, à empresa Taha Administração e Construção, de propriedade de uma offshore localizada no Panamá e que já teve como sócio o investidor Naji Nahas. Os dez malotes lacrados, com documentos e computadores, deverão ter sua análise concluída, segundo o delegado da PF Gerson Machado, dentro de quatro meses.

A PF investiga a procedência e o destino de milhões de reais movimentados pela esposa do deputado, Stahel Fernanda, e por dois assessores dele, Meheidin Hussein Jenani e Rosa Alice Valente. O dinheiro teve como origem a corretora Bônus-Banval – apontada pela CPI dos Correios como o canal utilizado pelo publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza para repassar dinheiro ao PP, então liderado por Janene na Câmara -, a Taha e outras corretoras que estão sendo investigadas pela PF. A maior parte do dinheiro veio do exterior e seria procedente do "valerioduto".

A esposa e os assessores de Janene, o único dos acusados de se beneficiar do mensalão que ainda não foi julgado pelo Conselho de Ética por estar em licença médica desde setembro, passaram a ser investigados em 2004 pela PF a pedido do Banco Central, que desconfiou da disparidade do volume movimentado e suas declarações de rendimentos. Meheidin, por exemplo, declarava um salário de R$ 1,8 mil e movimentou num único mês mais de R$ 300 mil.

A PF disse ter "indícios" de que parte do dinheiro destinado pelo "valerioduto" a Janene tenha sido utilizada na aquisição de imóveis e outros bens que estão em nome de sua esposa. A mansão que está sendo construída em nome de Fernanda, de mil metros quadrados e avaliada em R$ 2 milhões, e há indícios de que uma dezena de propriedades agrícolas também em nome dela teriam sido pagas pelo suposto esquema comandado por Valério.

Notas fiscais relativas à compra de material de construção foram encontradas em poder de Rosa e um cheque assinado por ela, no mesmo dia em que a Bônus-Banval efetuou depósito em sua conta, foi utilizado como parte de pagamento de uma propriedade rural em Faxinal, norte do Paraná.

O relacionamento entre Janene, Valério e o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e do ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira, era intenso, de acordo a CPI dos Correios, ao cruzar as ligações telefônicas entre eles. Eles trocaram 621 telefonemas em poucos meses. A CPI apurou que Janene recebeu R$ 4,1 milhões do "valerioduto" mas, segundo a PF, as contas dos assessores e da esposa dele movimentaram valores ainda maiores a partir de 2003.

O advogado de Janene, Adolfo Góis, afirmou que ontem foi protocolada uma reclamação no Supremo Tribunal Federal (STF), com o objetivo de suspender as investigações em Londrina e de pedir que sejam devolvidos os documentos e computadores apreendidos. "As ações têm o único fundamento de investigar o deputado e tem usado ardilosamente seus funcionários e sua família como subterfúgio para usurpar a competência do Supremo", disse. No mérito da reclamação, segundo Góis, pede-se que qualquer investigação contra Janene seja feita no STF.

Janene diz em carta que pode depor dia 31

Brasília (AB) – O deputado José Janene (PP-PR) encaminhou carta ao Conselho de Ética da Câmara informando sua disposição de prestar depoimento no dia 31. O parlamentar, acusado de ser um dos beneficiários do chamado "valerioduto", esquema de pagamento em troca de apoio nas votações no Congresso, responde a processo de cassação no Conselho e está de licença médica desde setembro. sofre de cardiopatia grave e já tentou a aposentadoria por invalidez.

O presidente do Conselho de Ética, deputado Ricardo Izar (PTB-SP), que já havia marcado a leitura do parecer do relator, deputado Jairo Carneiro (PFL-BA), para a próxima quarta-feira (24), aceitou a oferta de Janene e adiou a votação do processo para a primeira semana de junho. "É a última chance para ele se explicar. Se não vier desta vez, marco imediatamente a votação do relatório. Esse processo vai ser encerrado na primeira semana de junho, com ou sem o depoimento dele", garantiu.

Ricardo Izar informou que Janene pediu para depor acompanhado de dois médicos e que a solicitação também foi aceita e o presidente do Conselho de Ética chamou dois médicos da Câmara. E disse que se a intenção do parlamentar é sensibilizar os conselheiros, Janene não terá espaço para isso: "Espero que ele não faça disso um show. Eu não vou permitir que isso aconteça".

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