Um homem foragido da Justiça percorreu cerca de 5 mil quilômetros a pé e de carona em busca da liberdade e, para a surpresa da Polícia Civil de Taubaté, no Vale do Paraíba (SP), pediu para ser preso, novamente, na tarde de ontem. Eriomar Nogueira Luz, de 35 anos, fugiu da Penitenciária Edgar Magalhães Noronha, de Tremembé (SP), andou cerca de 2,6 mil quilômetros até Esplanada (BA), foi preso de novo, escapou outra vez, depois de 30 dias, voltou pelo mesmo caminho e entregou-se esta semana em Taubaté. "Não tive sossego nesse tempo, cansei de fugir."

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A peregrinação começou em maio. Com saudade da família, o baiano Luiz decidiu pular a muralha da penitenciária onde cumpria pena por roubo e furto em regime semi-aberto. "Eu não via meus pais há cinco anos e queria encontrar meus parentes de novo. Foi quando tive a idéia de sair e seguir a pé." Ele feriu-se ao saltar o muro e, só com a roupa do corpo, subiu a Serra da Mantiqueira em direção a Campos do Jordão (SP), enfrentando o rigoroso frio da época. "Passei muito frio, ao ponto de pedir abrigo no posto da Polícia Rodoviária." Soropositivo desde 2001, Luz cumpria pena há 8 por 13 processos – 9 furtos, 2 roubos, 1 receptação de produto roubado e outro por falsa identidade.

Depois de passar pela Serra, seguiu até a Bahia. "Ia pedindo comida, pedindo água e, quando estava limpinho, conseguia carona." O detento, que faz crochê e foi servente de pedreiro, afirma que, para conseguir carona, tinha de fazer a barba. "Ganhava roupa, tomava banho e, quando estava limpinho, tinha carona." Luz diz que passou dificuldade com frio, chuva, noites ao relento, mas não teve fome. "Em posto (de combustível), as pessoas dão comida pra gente. Ninguém passa fome em viagem, não." Foi de cidade em cidade, posto em posto, percorrendo também os albergues noturnos, que o foragido chegou, depois de quatro meses, à zona rural de Esplanada, na divisa entre a Bahia e Sergipe. "Meus pais ficaram contentes, minhas irmãs também, mas sempre diziam que eu tinha de voltar pra pagar o que fiz." "Eu sou, ou melhor, eu era a única ovelha negra da família; agora, sou convertido a Jesus." Na casa dos pais, não ficou nem dois meses, onde ajudou no plantio de quiabo.

A convivência com os parentes na Bahia não foi tão harmoniosa como Luz esperava e as brigas o fizeram a procurar a delegacia da cidade. "Ao se apresentar lá, foi detido, e esperava ser transferido com rapidez para Taubaté. Como viu que estava demorando demais, fugiu de novo e resolveu se entregar aqui." No caminho, para poder ter direito de dormir em abrigos, tomar banho e alimentar-se, o foragido fazia boletins de ocorrência nas delegacias, com outro nome, alegando que tinha perdido os documentos.

Cansado

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Cansado da peregrinação, ele apresentou-se em Barra do Piraí (RJ), mas, no sistema, o nome não aparecida como fugitivo. Desde que deixou a Bahia, levou outros três meses para chegar a Taubaté. "Quero sair de cabeça erguida daqui, vou cumprir o que me resta, mas queria voltar pra colônia", disse, referindo-se ao regime semi-aberto. Segundo o delegado Marcelo Duarte, da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Taubaté, uma vaga na penitenciária de Potim, também no Vale do Paraíba, foi conseguida para Luz, que volta para o regime fechado.