Brasília – O procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, só tem mais 45 dias de mandato, mas está aproveitando cada minuto para limpar das gavetas os processos pendentes. Diante da independência adotada por Fonteles, políticos, magistrados e procuradores já manifestam preocupação com a escolha de seu sucessor.

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A enxurrada de pedidos de inquéritos abertos na última semana comprova sua disposição de não deixar pendências: num só dia o Supremo Tribunal Federal aceitou seu pedido de abertura de inquérito e quebra de sigilo contra o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e pedido de inquérito contra o ministro da Previdência, Romero Jucá. No mesmo dia foram abertos inquéritos contra o deputado Jader Barbalho (PMDB-PA), acusado de crimes fiscais em suas empresas, e quebrado o sigilo bancário e fiscal da Igreja Universal.

Muitos se sentirão aliviados com sua saída, mas personalidades do Judiciário, Legislativo, Ministério Público e Ordem dos Advogados do Brasil iniciam um movimento para que o sucessor de Fonteles a ser indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva continue seu trabalho e não tenha um perfil de "engavetador".

"O sucessor do Cláudio tem que estar à sua altura. Ele deixa o exemplo de uma atuação que buscou com coragem, acima de tudo, a indepedência, a honra da instituição e o bem coletivo", disse o ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio de Mello.

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O presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), Nicolao Dino, diz que a independência e a responsabilidade que marcaram a gestão de Fonteles devem ser os dois critérios a serem observados pelo presidente Lula na escolha do seu sucessor. "É indesejável que o governo venha destrilhar dessa rota, escolhendo um procurador que não o incomode", disse.

O vice-presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Aristóteles Atheniense, salienta que Fonteles não deixou a amizade com o presidente Lula interferir em sua disposição de manter a independência no cumprimento de sua tarefa. "É muito fácil conviver bem com o governo. Basta fechar os olhos e ficar indiferente às coisas erradas, mas ele foi corajoso de se expor fazendo o que tinha que fazer. Ele pode ter pecado por ação, mas nunca por omissão", afirmou.

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O líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), diz que o presidente Lula conhecia a trajetória de Fonteles e sabia o que estava fazendo ao escolhê-lo como procurador-geral.