Lançador de satélite igual
ao que explodiu.

Alcântara – O terceiro protótipo do Veículo Lançador de Satélites (VLS) que seria lançado a partir de segunda-feira do Centro de Lançamento de Alcântara (Cla), no Maranhão, explodiu ontem na rampa de lançamento. O ministro da Defesa, José Viegas Filho, em uma entrevista coletiva, disse que houve 16 mortos e que não é possível identificá-los por enquanto.

A Gerência de Segurança do Estado do Maranhão havia informado algumas horas antes que 19 pessoas tinham morrido na explosão do foguete e cerca de 20 ficaram feridas. Somente na plataforma de lançamento trabalhavam 16 pessoas no momento da explosão. Cerca de 700 pessoas trabalhavam na operação de lançamento do VLS-3, que deveria ocorrer na próxima semana. Todos os hospitais de São Luís foram preparados para receber as vítimas, transportadas em helicóptero para a capital maranhense.

Não houve registro de danos causados a pessoas ou instalações fora da área do Centro de Lançamento, ou seja, morreram somente civis e militares que trabalhavam na base. Segundo o Comando da Aeronáutica, o acidente aconteceu às 13h30. O Ministério da Aeronáutica já deu início à investigação para apurar a causa da explosão do protótipo. As equipes de segurança levantaram os dados para avaliar a situação. Em nota oficial, o ministério afirma que “até o momento não existem, ainda, elementos suficientes para afirmar possíveis causas do acidente”.

O presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Luiz Beviláqcua, foi surpreendido ontem à tarde pela notícia da explosão em solo do terceiro protótipo do Veículo Lançador de Satélites. Questionado sobre a explosão durante entrevista coletiva para falar sobre o acordo espacial Brasil-Ucrânia, Beviláqcua inicialmente desdenhou a informação confirmada minutos depois por um assessor.

Com o lançamento, o Brasil se tornaria o primeiro país da América Latina a enviar um foguete de fabricação própria para o espaço a partir de uma base construída perto da linha do Equador e planejada décadas atrás pelos generais da ditadura. A base de lançamento de Alcântara, no Maranhão, e seus 800 cientistas e militares corriam contra o relógio para concluir a montagem do foguete de 20 metros de altura.

O governo da ditadura militar planejou, originalmente, levar o País à corrida espacial nos anos 1970. O primeiro passo foi a desapropriação de um terreno de 62 mil hectares nas proximidades da cidade de Alcântara, onde foram construídas as instalações de lançamento. Até agora, os cientistas e militares brasileiros não conseguiram realizar seu sonho, quase 25 anos e centenas de milhões de dólares depois. Em 1997 e em 1999, os foguetes lançados se destruíram pouco depois da decolagem por problemas técnicos.

Cientistas estavam otimistas

Alcântara – O sucesso do lançamento do VLS-3 significaria uma grande vitória para o Brasil. Conforme autoridades, a base de Alcântara tem potencial para se tornar um dos maiores centros de lançamento de satélite do mundo. A base é a mais próxima da linha do Equador já construída, o que permite aos foguetes levar menos combustível e cargas mais pesadas, já que se aproveitam das forças centrífugas do planeta. Em julho, o governo brasileiro assinou um acordo com a Ucrânia, prevendo que Alcântara será a base de lançamento dos foguetes Cyclone. Por ter uma localização estratégica, a base também interessava aos Estados Unidos, que durante anos tentou negociar com o Brasil a sua cessão.

Os funcionários do laboratório de Alcântara deram início à montagem do foguete (Veículo de Lançamento de Satélite, VLS) de US$ 6,5 milhões no dia 1.º de julho, quando começaram a chegar os componentes enviados de São Paulo. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) montou dois pequenos satélites, que carregam equipamentos de posicionamento, um transmissor para comunicações e uma bateria. Os satélites, guardados juntos em um compartimento, seriam lançados em uma órbita baixa da Terra (cerca de 750 quilômetros acima da superfície), menos de oito minutos depois do lançamento e quando o último estágio do foguete fosse descartado.

Brasil rejeita os EUA pela Ucrânia

Brasília – A explosão do protótipo ocorre em um momento delicado: o governo Brasileiro rejeitou uma aproximação feita pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que praticamente cederia a base de Alcântara para os Estados Unidos, sem nenhuma vantagem em troca. O local seria um território americano. Com o governo Lula, houve uma mudança radical de enfoque. Saem os Estados Unidos e entra a Ucrânia.

O acordo de salvaguardas entre Brasil e Ucrânia para a utilização comercial do Centro de Lançamento de Alcântara (Cla), no Maranhão, ainda não foi aprovado pelo Senado Federal mas já está praticamente acertado pelos representantes dos dois países. Ele prevê a criação de uma empresa binacional para a administração e lançamento do foguete ucraniano Cyclone 4, a transferência de tecnologia de projetos e de produção de combustível líquido e a utilização da base brasileira em vários lançamentos do programa Cyclone.

Hoje, os presidentes da Agência Espacial Brasileira (AEB), Luiz Bevilacqua, e da Agência Espacial Nacional da Ucrânia (Nsau), Valeriy Komarov, informam os detalhes da negociação em entrevista coletiva, às 11h30, na sede da AEB. A missão ucraniana chefiada por Komarov está em Brasília desde 3.ª feira para concluir as conversações e acertar os aspectos jurídicos das ações previstas no acordo.

A parceria com a Ucrânia abrirá caminho para a exploração comercial do Cla e aumentar a competitividade do foguete ucraniano no mercado internacional, uma vez que o custo dos lançamentos em Alcântara é cerca de 30% mais baixo do que os efetuados no hemisfério norte. África do Sul, Israel e Índia são alguns dos potenciais clientes que já demonstraram interesse em lançar carga útil (sondas e satélites) a partir do Maranhão. Brasil e China já desenvolvem um satélite conjunto que também partirá da base maranhense.

Cada lançamento no Cla custará entre US$ 30 milhões e US$ 50 milhões. Se o acordo com a Ucrânia e com outros potenciais clientes render pelo menos dez lançamentos por ano, a operação comercial da base nordestina pode gerar receitas anuais de até US$ 500 milhões. O mercado mundial de lançamentos de foguetes movimenta anualmente mais de US$ 4 bilhões.

A Ucrânia investirá R$ 50 mihões para implantar a infra-estrutura necessária para que o Cyclone possa decolar a partir de Alcântara; um investimento pequeno diante dos ganhos que podem ser gerados pela estrutura. A economia de combustível proporcionada pela posição geográfica de Alcântara só é comparada à oferecida pelo sistema de lançamento Sea Launch, no Oceano Pacífico, mas, mesmo assim, a base brasileira tem a vantagem logística de se localizar no continente e operar praticamente o ano inteiro.

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