A ênfase na construção de fábricas e produção de vacinas rendeu benefícios à saúde pública e prestígio internacional ao Instituto Butantã nos últimos anos. Mas trouxe como efeito colateral a degradação da estrutura de pesquisa básica, à qual pertencia o acervo de cobras e aranhas, destruído no sábado por um incêndio. A secretaria estadual da Saúde, a qual o Butantã está subordinado, alegou ter investido R$ 2,6 milhões na infraestrutura nos últimos quatro anos.
Segundo fontes ouvidas pelo jornal O Estado de S. Paulo, as chamas que consumiram a coleção centenária, iniciada por Vital Brazil, não nasceram de uma falha pontual no sistema contra incêndios, mas de uma deficiência estrutural sistêmica que ameaça grande parte do patrimônio histórico e científico do instituto.
O prédio da biblioteca, que ostenta o nome do Instituto Butantã no ponto mais alto do complexo, é exemplo disso. Há goteiras, infiltrações e cupins por todos os lados. Uma sala está sem teto e teve de ser interditada no início do ano por causa de um deslocamento de vigas. Sem instalações adequadas para trabalhar, funcionários recorrem a gambiarras elétricas. Há até um morcego que vive no porão, apelidado de Juquinha. No mesmo prédio funciona, indevidamente, o setor de farmacologia.
“E olha que esse prédio é o cartão postal do Butantã”, diz a bibliotecária Lindalva Santana, que cuida do acervo de 8 mil livros e 200 mil revistas científicas. A coleção de obras raras, incluindo publicações dos séculos 18 e 19, encapadas com pele de cobra, está espremida em um armário de ferro comum, cheirando a naftalina. “Faz dez anos que cheguei aqui e faz dez anos que peço para comprarem um armário novo”, conta Lindalva.