Um incêndio destruiu seis ocas de uma tribo guarani instalada desde abril na praia de Camboinhas, endereço nobre na região oceânica de Niterói, na Grande Rio de Janeiro. O incêndio ocorreu no momento em que os homens do grupo participavam de uma reunião em outro ponto do bairro. Somente mulheres, crianças e um índio estavam na aldeia. O fogo deixou um único ferido, Joaquim Karaí Benite, de 43 anos, que teve queimaduras de segundo grau nas costas e no braço esquerdo. De acordo com a Polícia Civil, o incêndio foi criminoso.
Lídia Nunes, de 67 anos, espécie de líder do grupo, ouviu quando um homem gritou: “Olha os índios pegando fogo!”. Segundo Lídia, ele correu em direção ao canal que divide as praias de Camboinhas e Itaipu. Quando o fogo começou, havia muitas crianças no local. As índias correram para tirar três bebês, um de 11 meses, um de 1 ano e outro de 1 ano e 3 meses de uma das ocas. O fogo se espalhou rapidamente e não houve tempo de retirar roupas e pertences pessoais.
Benite tentou recuperar seus documentos, mas desmaiou na entrada de uma das ocas e por isso ficou ferido. No momento do incêndio, uma enfermeira da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) chegava para o acompanhamento médico das crianças e socorreu o índio. Também ficou em cinzas a escola indígena montada na aldeia, onde estavam guardados livros. Entre eles, a obra escrita pelo cacique Darci Tupã Nunes de Oliveira, de 29 anos, que contava a história dos antepassados da tribo. Não há cópias. Na escola, as crianças do grupo aprendiam a língua guarani.
Peritos da Polícia Civil estiveram no local e informaram que o incêndio foi criminoso porque havia vários focos e não um só. “Se tivesse ocorrido um acidente, o fogo se alastraria a partir de um único ponto”, observaram. A delegacia de Itaipu (81º DP) abriu inquérito para investigar o caso.
O grupo havia deixado Parati, na costa sul fluminense por causa de uma briga interna. Desde que chegaram a Camboinhas, eles vinham enfrentando a resistência da associação de moradores do bairro e de empreiteiras que têm planos de construir na região. Os índios alegam que estão em áreas de sambaquis (cemitérios indígenas) e não pretendem sair.