O fluxo de ganenses para Caxias do Sul ficou próximo de parar nesta semana, quando apenas dois migrantes chegaram à cidade da serra gaúcha em busca do protocolo do pedido de refúgio no Brasil e de emprego no País. Nesta quinta-feira, 07, o ginásio de esportes do Seminário Diocesano Nossa Senhora Aparecida, que já abrigou 120 pessoas, esteve a ponto de ficar vazio. Os dois hóspedes remanescentes deixaram o local para assumir seus empregos. Um foi para uma propriedade rural na região metropolitana de Porto Alegre e outro para uma indústria de alimentos em São Sebastião do Caí. À tarde, no entanto, chegaram dois novos migrantes.
Desde o dia 3 de julho, quando a Copa do Mundo pouco havia passado da metade, cerca de 400 pessoas vindas de cidades como Acra e Kumasi, no país africano, bateram às portas do Centro de Atendimento ao Migrante (CAM), organização ligada à Igreja Católica de Caxias do Sul, em busca de ajuda para encaminhar papeis e buscar empregos, e da delegacia local da Polícia Federal, em busca do protocolo de pedido de refúgio, com o qual se habilitam ao trabalho e à assistência social no Brasil.
Dessas 400 pessoas, cerca de 300 tomaram o rumo de outras cidades, como Criciúma (SC) e São Paulo. Todas as 101 que ficaram em Caxias do Sul para, além de documentos, procurar emprego, acabaram encaminhadas ao trabalho pelo próprio CAM e pelo Sine e se espalharam por cidades do Rio Grande do Sul para assumir atividades em frigoríficos, indústrias de conservas, hotéis e pequenas empresas de serviços, entre outras. O fluxo de chegada, que chegou a ser de dezenas de pessoas por dia, perdeu velocidade há duas semanas.
“Na semana passada chegaram quatro pessoas e hoje duas”, revela a oordenadora do CAM, Irmã Maria do Carmo dos Santos Gonçalves, da congregação das Missionárias de São Carlos Borromeo Scalabrinianas. “Diante dos dados do Ministério da Justiça, que informou que o universo de ganenses que entraram no Brasil era limitado, a redução do fluxo é uma tendência que se confirmou”, comenta a religiosa.
Os próprios ganenses que chegaram a Caxias do Sul confirmaram que aproveitaram a facilidade para obter visto de turista durante a Copa do Mundo para tentar a sorte no Brasil.
Para a Irmã Maria do Carmo, episódios como o fluxo de ganenses, que se somou ao de haitianos e senelageses, deveriam servir de inspiração para o Brasil rever sua legislação e criar políticas específicas para migrantes pautadas pelos direitos humanos. “A política de criminalização dos migrantes não funciona, basta ver o que acontece nos Estados Unidos e na Europa”, compara, referindo-se à linha dura adotada por alguns países, que se mostrou incapaz de conter o fluxo. “A regularização beneficia não só a economia, mas a própria sociedade”.