O psicólogo Yanco Paternó de Oliveira, de 27 anos, tem uma sala exclusiva para atendimentos online. Desde 2017, ele incluiu sessões com usuários de um aplicativo para fazer terapia entre os horários de suas consultas presenciais e o trabalho que realiza em uma ONG. Oliveira faz parte do movimento crescente de profissionais da psicologia que atendem em plataformas para celular e computador, que permitem contato com o psicólogo por mensagens de texto, de voz e de vídeo.

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A presença dos psicólogos no mundo virtual é tão expressiva que fez com que o Conselho Federal de Psicologia (CFP) atualizasse a resolução que regulamenta a atividade no mês passado. A partir de novembro, para todo tipo de atendimento virtual não haverá limite de sessões – a última resolução, de 2012, limitava a 20. Com a mudança, todo profissional que faz esse tipo de consulta terá de fazer um cadastro, que será atualizado anualmente.

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“Comecei a atender em maio do ano passado no aplicativo e larguei um dos meus empregos em seis meses, porque dá retorno financeiro maior do que imaginava. Em termos de trabalho, tenho mais pacientes online do que no presencial, mas dá para fazer um trabalho ético e responsável”, diz Oliveira. “Perde-se um pouco, porque a comunicação também é pelo corpo e pelo tom de voz, mas tenho pacientes que não entravam no elevador havia dez anos e, com três meses de terapia online, voltaram a entrar. Além disso, uma das funções do divã, usado no presencial, é não ver as reações do terapeuta e isso pode ocorrer no online.”

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Ele optou por continuar o atendimento presencial e ter um local específico para consultas online. “A pessoa precisa ter um espaço sempre igual para que o cérebro se acostume. No presencial, há pessoas que dizem que já se sentem abraçadas ao chegar. Essa sensação tem de se reproduzir no online.”

Após uma cirurgia bariátrica, a advogada Kattie Ferrari, de 42 anos, sentiu necessidade de acompanhamento psicológico. Mas não conseguia encontrar horário para as sessões. “Fico o dia inteiro no Fórum, cumprindo prazos. Não tinha tempo, porque, para eu me deslocar até um local, seria complicado. Acho que a modernidade é para facilitar a vida”, conta.

Kattie já fez terapia presencial e diz não ver diferença no online. “Agora faço via Skype e o terapeuta vê minhas expressões. Faço uma vez por semana, mas, caso tenha problema, posso procurá-lo.” O preço, diz, também foi um diferencial.

‘Match’

Os apps oferecem desde a consulta praticamente instantânea, para que o usuário converse com o psicólogo disponível, até o uso de tecnologias para fazer o “match” com o profissional que mais se encaixa ao seu perfil. Com preços a partir de R$ 70, há ainda assinatura de planos. Uma consulta presencial, segundo tabela da Federação Nacional dos Psicólogos referente a dezembro, tem preço médio de R$ 226,38.

A 99Psico começou a funcionar há um ano e meio e logo teve alta demanda, segundo o fundador, David Reichhardt. Na ferramenta, é possível conversar com os especialistas em um chat e combinar atendimento – e preço – com o profissional. “A negociação é com o psicólogo. Sugerimos valor de R$ 99 por consulta, mas há profissionais que cobram mais, outros menos.” Foram 15 mil downloads e 30 mil acessos no último ano.

No ar desde outubro de 2016, a plataforma FalaFreud tem 7 mil psicólogos cadastrados e mais de 300 mil pessoas já passaram pelo app. “Na prática, muita gente já atendia online e o psicólogo vai se sentir mais protegido, não precisa fazer informalmente”, diz o fundador, Yonathan Yuri Faber. A ideia é encontrar o profissional que tenha mais afinidade com o usuário, por meio de inteligência artificial para analisar perfis.

Com preços de R$ 70 (plano semanal) a R$ 540 (plano trimestral), a Oriente-me estreou em novembro. O atendimento é de segunda a sexta e os psicólogos têm 24 horas para responder as mensagens. Também é possível escolher entre os profissionais de destaque no APP.

“Com certeza, o fator preço é um diferencial, mas tem de tomar cuidado com o mais barato, porque pode comprometer a qualidade. Queremos ter a melhor tecnologia, os melhores profissionais e o melhor preço”, afirma Bruno Haidar, CEO da Oriente-me.

Recomendações

Além do cadastro dos profissionais e do fim do limite de 20 sessões online, a Resolução 11/2018 do Conselho Federal de Psicologia (CFP) destaca que os apps e sites não podem fazer atendimentos em caso de violência, violação de direitos e emergências. “Não é recomendável buscar o atendimento em situações de crise, urgência e emergência, pânico, depressão profunda, risco de suicídio, porque a pessoa precisa de mais presença, de ter uma rede de apoio e proteção.”

Conselheira do CFP, Rosane Granzotto explica que as discussões sobre o atendimento não presencial tiveram início em 1994, quando o uso do telefone foi debatido. Em 2000, o uso do computador foi liberado no âmbito da pesquisa e, em 2012, esse tipo de atendimento passou a ser permitido, desde que o psicólogo tivesse um site. Mas o caráter ainda era experimental.

“Esta última resolução tem seis anos e, nesse período, muita coisa aconteceu. Tivemos cadastramento de muitos sites e cresceu a demanda de profissionais para o atendimento online, por causa de pessoas que moram em cidades sem muita oferta de psicoterapia e em função de as tecnologias terem avançado, com videochamada e sigilo da criptografia”, diz Rosane.

Segundo ela, antes só a plataforma era analisada. Agora, cada profissional deve passar pelo cadastro e ficará visível. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.