Brasília – O ex-presidente do IRB (Instituto de Resseguros do Brasil) Lídio Duarte, vai ser convocado novamente pela Polícia Federal, para um novo depoimento sobre o esquema de pagamento de propinas de R$ 400 mil para o PTB. Duarte depôs esta semana e negou o esquema, mas em uma fita divulgada este final de semana pela revista Veja ele diz exatamente o contrário do que declarou na PF. Duarte conta que os indicados pelo PTB para assumir cargos públicos têm de recolher a mesada.
Com a divulgação da gravação, a cúpula do governo voltou a ficar pessimista. O Palácio do Planalto avaliava até sexta-feira de manhã que a crise política já estava esfriando, com a definição de uma estratégia para matar a CPI dos Correios, nesta terça-feira, na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal. O governo já contava até com os votos necessários. Mas a fita apareceu e fornece munição para a oposição usar esta semana e insistir na criação de uma CPI dos Correios. A fita complica ainda mais o presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), com respingos para o Palácio do Planalto.
Lídio Duarte conta que Jefferson costuma reunir todos os seus indicados em jantares na sua casa, em Brasília, para falar sobre contribuições ao partido. Duarte conta que funciona da seguinte forma: ?É assim, a história é a seguinte: dizem que o partido tem despesas com os diretórios, as festas, os jantares, não sei o quê, cada indicado tem que botar lá R$ 400 mil por fim?. Os diálogos são constrangedores, segundo Duarte: ?Pô, como é que é isso, e tal. Fulano tá pressionando. A gente está com a espada sobre a cabeça e tal, e nada acontece. Pô, é um negócio constrangedor, cara?. O ex-presidente do IRB diz não sentir falta desses encontros. ?É um negócio constrangedor. Eu, francamente, saí de lá e tô vivendo no mundo da Lua, sabe? Tô no paraíso?, afirma Duarte, sempre segundo a revista.
Complicou
A situação se complica para o Palácio do Planalto, envolvido na ?operação abafa? para impedir a CPI e proteger Jefferson, aliado do governo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a dizer publicamente que acreditava na inocência do deputado, coisa difícil de provar, a cada dia que passa. O líder do governo federal na Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (PT-SP), tentou ontem aparentar serenidade, afirmando em São Paulo que o Palácio do Planalto está tranqüilo em relação à fita e sobre a revelação de que Lídio Duarte era obrigado a repassar uma ?mesada? para o PTB. ?Isso reafirma a necessidade de uma investigação que já está ocorrendo.?
Segundo Chinaglia, a reconvocação de Duarte pela Polícia Federal deve ser suficiente para esclarecer os fatos. Nesta semana, Duarte declarou em depoimento na PF que não havia desviado recursos do IRB para o PTB. ?A investigação vai continuar sendo feita pela PF ou pelo Ministério Público. Este (Duarte) que aparece na fita vai ter de provar as denúncias.? A fita revela que Duarte mentiu à polícia e terá de esclarecer a contradição.
O deputado reafirmou que a intenção do governo é punir todos os culpados. ?Ninguém será poupado?, disse. O deputado participou na manhã de ontem da entrega de cartões do Bolsa Família na cidade de Santo André, em São Paulo, junto com o presidente Lula. A conseqüência imediata da divulgação da fita é a convocação de Duarte para novo depoimento na Polícia Federal. Que, no entanto, pode envolver ainda mais o PTB. E o governo.