Um erro na execução do investigador Douglas Noaldo Yamashita, de 29 anos, levou à descoberta de uma quadrilha de pistoleiros formado por policiais militares e ex-PMs em São Paulo. Não se trata de grupo de extermínio, como tantos outros investigados no Estado, mas de uma espécie de empresa que vendia um único produto: assassinatos. Cobravam R$ 30 mil por morte encomendada e chamavam o empreendimento de “A Firma”.

continua após a publicidade

Yamashita foi executado na noite do dia 12, em Santo André, no ABC Paulista. Os assassinos chegaram num Corsa. Com toucas ninja, coletes à prova de balas e pistolas calibre 7,65 mm com silenciadores, dois homens vestidos de preto e com coldres amarrados nas pernas foram surpreendidos pela reação do investigador. Ele baleou um agressor, caiu e foi arrastado pelo carro dos assassinos por 20 metros.

Mesmo com o colete, um dos agressores foi alvejado cinco vezes. Seria o ex-policial militar Jairo Ramos dos Santos, de 40 anos. O colete salvou sua vida – marcas dos impactos dos tiros no colete ficaram em seu peito. Ele foi levado por amigos a uma casa na Vila Formosa, na zona leste. Um deles seria PM da ativa, já identificado pela Polícia Civil. Ali, o médico Lior Baruch foi atendê-lo. Baruch disse, ao depor ao delegado Vítor Santos de Jesus, que foi chamado por um amigo, o também ex-PM Luís Roberto Gavião, dono de uma empresa de segurança.

Baruch disse que não podia tratar de Ramos ali, que era preciso levá-lo a um hospital. Conduziu o homem ao Hospital Geral de Pirajuçara, em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, onde o médico havia trabalhado. Policiais militares presenciaram a chegada do médico e do ferido e passaram a questioná-lo sobre o que havia ocorrido. Como ele não soube responder nem mesmo o nome do paciente, os PMs chamaram a Polícia Civil.

continua após a publicidade

Os investigadores de Taboão da Serra identificaram o paciente. Ramos era procurado por porte ilegal de arma. Em 1999, a Corregedoria da PM achou um arsenal em seu apartamento na Aclimação, no centro. Além de pistolas e uma submetralhadora, o ex-PM tinha coletes à prova de balas e silenciadores no local.

Ameaça

continua após a publicidade

O acusado não confessou o assassinato de Yamashita, mas advertiu os policiais civis: “Vocês vão esquecer minha cara, mas eu não vou esquecer vocês.” Ramos trabalhou no 18º Batalhão da PM, onde teria integrado, nos anos 1990, o primeiro grupo de extermínio da unidade. Na época, foi acusado atirar no carro de um delegado e de matar três pessoas em uma chacina. Foi absolvido dos dois crimes.

Agora, ele é suspeito de matar, em 2009, outros quatro policiais em Santo André. Dois trabalhavam com Yamashita. São os investigadores José Carlos Santos e Ramiro Diniz Junior, mortos com tiros de fuzil. A máfia dos caça-níqueis estaria por trás desses crimes e teria contratado “A Firma” para matar também os PMs Uermerson Silva dos Santos e José Marcelo da Silva.