Felipe Siqueira Cunha de Souza, de 23 anos, faz faculdade de Relações Internacionais, estágio na Secretaria Estadual de Ensino Superior e aulas de italiano. Mas ontem, durante o dia inteiro, Felipe não fez absolutamente nada – ficou trancado em casa, vendo televisão, esperando as horas passarem um pouquinho mais depressa. Ferido gravemente por quatro tiros dados pelo promotor agora vitaliciado no cargo Thales Ferri Schoedl, o estudante teve de reviver todos os momentos de recuperação e tristeza por que passou nos últimos 32 meses.
?Eu ainda estou tentando levar uma vida normal. Mas, quando vi no jornal que o Thales não foi exonerado pelo Ministério Público simplesmente fiquei anestesiado?, diz ele. ?É difícil explicar o que estou sentindo, colocar em palavras. Revolta é pouco. Isso é corporativismo, ninguém vê isso? Não tem um dia em que eu não me lembre daquela noite, não tem um dia em que não passe um filminho pela minha cabeça. Mas a vida segue, ela precisa seguir mesmo que o Thales saia impune dessa.
O crime ocorreu no dia 30 de dezembro de 2004, a 30 metros da orla da Praia de Riviera de São Lourenço, em Bertioga, no litoral de São Paulo. Felipe conta que estava dentro do seu carro com o amigo Diego Mendes Modanez quando ouviu uma discussão. ?Era o Thales discutindo com um grupo de dez pessoas, que eu nem conhecia?, conta. ?Puxa, era véspera de Ano Novo, época de festa, nós fomos lá para tirar o cara da briga, até porque ele estava sozinho e ia apanhar. Só que ele começou a discutir comigo. Quando vi, ele estava apontando uma arma para mim. Fiquei paralisado. Depois disso, só tenho flashes do que aconteceu.