brasil

Filmagens invadem as ruas de São Paulo

Muitas vezes cenário, em algumas protagonista, São Paulo é cada vez mais retratada em filmes, séries, novelas e filmes publicitários. Levantamento obtido pelo Estado mostra que o número de filmagens realizadas em vias públicas paulistanas saltou de 155 em 2006 para 1.287 neste ano – até o início de setembro.

O aumento é gigantesco: em média, eram realizadas 13 gravações do tipo por mês em São Paulo. Agora, são 161. Os dados foram fornecidos pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), por meio da Lei de Acesso à Informação.

“Um fator que pode explicar o fenômeno é o aumento exponencial na demanda de projetos audiovisuais”, acredita o cineasta Fernando Meirelles, cofundador da O2 Filmes – que rodou em São Paulo, por exemplo, o longa Ensaio sobre a Cegueira.

“Não sei se algum outro setor da economia cresceu tanto na última década como o audiovisual. Hoje a produção de filmes para internet explodiu, roda-se sem parar e com a lei de obrigatoriedade de programas brasileiros na TV a cabo (de 2011), que pegou, surgiu um mercado que não existia”, disse Meirelles.

Só a O2 está, nos últimos dois meses, com duas equipes filmando séries pela cidade – um time grava a terceira temporada de PSI, para a HBO, enquanto outra faz O Advogado do Diabo, para a Globo. “Fora as filmagens que aparecem aqui e ali”, afirmou Meirelles.

O levantamento com todas as 12.396 filmagens realizadas em vias públicas entre janeiro de 2006 e o início de setembro deste ano mostra ainda quais são os logradouros mais requisitados pelas produções. A Avenida Paulista, com 365 gravações, lidera o ranking, seguida por quatro locações da região central da cidade: o Viaduto do Chá, com 225 filmagens; o Vale do Anhangabaú, com 219; a Rua Líbero Badaró, com 197; e a Praça Ramos de Azevedo, com 165.

Na última quarta, feriado de Finados, a reportagem acompanhou as equipes da Boutique Filmes e do Canal Universal no Anhangabaú. Eles gravavam a terceira temporada da série Cinelab, que deve ser exibida no primeiro semestre de 2017.

No episódio em questão, foi provocada uma “explosão” de uma banca de camelô. “Sempre tivemos muito interesse em usar a cidade como cenário. Isso faz sentido porque mostra a paisagem local, um lugar identificável e, ao mesmo tempo, facilita a produção – sem muitos deslocamentos”, diz o produtor executivo Gustavo Mello.

“Com a criação da SPCine (a Empresa de Cinema e Audiovisual de São Paulo, institucionalizada no ano passado), existe um pensamento de como se usar a cidade de uma maneira mais clara”, prossegue. O discurso é corroborado por muita gente do meio: a avaliação é de que o órgão tem desburocratizado e facilitado os pedidos de autorizações para uso de espaços públicos em São Paulo e reduzido a demora nas respostas. “Em uma produção, qualquer atraso começa a afetar o orçamento.”

Esse trâmite todo é efetuado pela São Paulo Film Commission. “Preocupamo-nos em resolver os gargalos que existem na cidade: há uma demanda enorme de filmagens e procuramos conversar com os órgãos públicos”, explica a coordenadora Tammy Weiss.

A expectativa do órgão é de que, com essa organização ainda incipiente, os dados aumentem mais no ano que vem. Se a média paulistana está em 155 filmagens em vias públicas por mês, na badalada Nova York o número é muito maior: 479, de acordo com dados do departamento municipal de filmes, teatro e televisão da cidade americana.

A reportagem pediu à RioFilme dados similares da capital fluminense, mas a assessoria de imprensa do órgão informou que não é possível especificar as gravações em vias públicas.

Impressões

Além da desburocratização e do aumento da produção, outros fatores são apontados como fundamentais ao crescimento de São Paulo nas telas. Por exemplo, a versatilidade. “Fazer externas dá autenticidade. E a cidade tem virtudes múltiplas, qualidades arquitetônicas variadas, pluralidade. Uma sequência de época? É só escolher o lugar certo”, afirma o diretor de arte Cassio Amarante, do filme Abril Despedaçado e da série Sessão de Terapia, entre outras obras. “São Paulo pode até ser uma cidade feia, cheia de prédios, cimento, sem praia. Mas sem dúvida é muito fotogênica”, avalia Lusa Silvestre, roteirista de filmes como Estômago, Um Namorado Para Minha Mulher, e outros.

“Há uma somatória de fatores que vão desde a autoestima da cidade, que foi redescoberta nos últimos anos, até o fato de que o digital dá mais agilidade para filmar na rua”, diz a cineasta Lina Chamie. “São Paulo foi abraçada pelo cinema. Antes, havia um tabu de olhar para ela.” Entre suas produções que muito utilizaram as ruas, estão A Via Láctea e São Silvestre.

Há também o fator financeiro. “Sair do estúdio, dos cenários mais caros, e ir para a rua, muitas vezes é um jeito de lidar com pouca verba”, comenta Sandra Othon, produtora executiva da Bossa Nova Films. “Também é uma tendência de linguagem: a locação real dá mais autenticidade”, afirma Sandra.

“Nenhum centro urbano é tão urbano quanto São Paulo no País”, define o cineasta Sergio Roizenblit. “O Rio pode ser espetacular, mas em São Paulo você tem 15, 20 espaços sensacionais que já estão prontos como locação.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo