A fila para a realização de exames na rede municipal de saúde cresceu 56% no último ano. Atualmente, 347 mil pessoas aguardam chamado da gestão Fernando Haddad (PT) para se submeter a um exame simples, como uma endoscopia, ou mais complexo, como uma tomografia computadorizada. No início do ano passado, esse número era de 223 mil pacientes. O tempo de espera pode passar de cinco meses.
Informações obtidas pela reportagem por meio da Lei de Acesso mostram ainda que tem demorado mais para um paciente conseguir agendar uma cirurgia na capital, mesmo com a saída de 5,3 mil pessoas da fila entre fevereiro de 2015 e fevereiro de 2016. A espera aumentou 25 dias no período – de 289 dias para 314 -, apesar da inauguração, desde 2013, de 17 unidades da Rede Hora Certa, dedicadas à realização de exames e cirurgias.
Parte da explicação, segundo a Secretaria Municipal da Saúde, tem origem no aumento do número de consultas com especialistas realizadas pela rede. No período de comparação, saíram da fila 67,6 mil pessoas, que foram atendidas e, em sua maioria, encaminhadas para outros serviços, como exames ou procedimentos cirúrgicos.
A crise econômica também influencia, pois a alta da taxa de desemprego reduz o porcentual da população que tem plano de saúde e ocasiona a volta dessas pessoas para o sistema público. A sobrecarga eleva o tempo de espera.
Como resultado desse cenário, há quem tenha de aguardar cerca de um ano para ser atendido. É o caso da espera média para cirurgias ginecológicas, que chega a 382 dias, ou do ultrassom de próstata – 317 dias. Os dados também revelam que, mesmo quando a fila é pequena, a demora é grande. Os 28 pacientes que precisam ser submetidos a um ultrassom do tórax, por exemplo, terão de esperar 27 dias para fazer o procedimento. Na prática, a Prefeitura só atende um deles por dia.
Com tanta gente na fila, a dona de casa Antônia Pereira Martins, de 54 anos, aguarda há seis meses para fazer dois exames para diagnóstico de incontinência urinária. São eles: avaliação urodinâmica, uma espécie de eletrocardiograma da bexiga, e tomografia computadorizada do mesmo órgão. Usuária da Unidade Básica de Saúde (UBS) República, na Praça da Bandeira, ela está na fila desde outubro do ano passado.
“Estão demorando demais para me chamar e não faço ideia de quando isso vai acontecer. Não costuma demorar tanto”, diz Antônia. Paciente da rede pública, ela afirma não ter como pagar pelos exames em uma clínica particular, por isso, o jeito é esperar. Em laboratórios mais populares, apenas a tomografia custa cerca de R$ 370. Segundo a secretaria, Antônia está na nona posição da fila, com prioridade no atendimento.
Usuária da mesma UBS, a bióloga Marcy Kurossu, de 32 anos, diz que exames simples, como raio X ou hemograma, saem rápido no posto, geralmente entre dez e 30 dias. O que demora, segundo ela, são as avaliações que exigem imagens, como tomografia. A paciente teve de esperar mais de três meses para se submeter ao procedimento e já entrou novamente na fila para novo acompanhamento, sem data para atendimento.
O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Patologia, Renato Lima, diz que a Prefeitura precisa descentralizar os serviços de diagnóstico para reduzir a espera. “Com mais laboratórios atendendo, mais rápido sai o resultado. A demora hoje acontece não apenas para colher o exame, mas para fazer a análise do material”, explica.
Vagas
A Prefeitura argumenta que o aumento da fila é também consequência do aumento da oferta de vagas para realização de exames na capital. De acordo com o secretário municipal de saúde, Alexandre Padilha, a secretaria faz 1,1 milhão de ultrassons por ano, ante 741 mil realizados em 2012, último ano da gestão Gilberto Kassab (PSD). No geral, a oferta de exames passou de 1,6 milhão para 2,1 milhão por ano.
“Com a chegada da Rede Hora Certa na periferia, como em M’ Boi Mirim, na zona sul, e Cidade Tiradentes, na zona leste, os serviços estão mais perto das pessoas. Com o aumento da oferta, aumenta a demanda. E, com a crise, caiu muito o número de pessoas que têm convênio”, explica Padilha.
No caso das cirurgias, o secretário alega que a espera é alta porque a média é puxada para cima por procedimentos mais complexos, como os ortopédicos, ou porque é preciso atender pacientes que aguardam na fila há mais de quatro anos. Mas ressalta que alguns mutirões têm ajudado a reduzir esse tempo, especialmente nas áreas de ginecologia e pediatria – neste último caso, a espera média caiu para 53 dias e a meta é zerar a fila neste ano. (Colaborou Juliana Diógenes)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.