Um morador do Morro dos Prazeres, em Santa Teresa (região central do Rio), foi preso no último dia 9 acusado de render e torturar policiais militares em novembro passado. Ele foi acusado por um PM, que viu o rapaz por fotos e o reconheceu. Familiares e amigos negam o crime e dizem que há uma grande confusão.
Nas redes sociais, o rapaz veiculou fotos em que aparece com armas, porque ele foi figurante em um filme que retratou a violência no morro. Atores como José Loreto participaram da produção e aparecem ao lado do acusado. Um advogado pediu relaxamento da prisão, mas a Justiça ainda não se manifestou.
Ao concluir em julho o supletivo do Ensino Médio, no Colégio Estadual Monteiro de Carvalho, em Santa Teresa, com média 7 e presença em 95,29% das aulas, William Preciliano Bezerra da Silva, de 20 anos, ganhou de presente dos pais a carteira nacional de habilitação. Em 9 de agosto ele foi a um posto do Departamento de Trânsito do Rio (Detran-RJ) no Largo do Machado (zona sul) para iniciar os trâmites de obtenção da CNH, e acabou preso. Conduzido a um presídio, não voltou mais para casa. Desde 10 de maio havia uma ordem de prisão contra ele.
Até então sem nenhuma passagem pela polícia, William foi indiciado pela 7ª DP (Santa Teresa) e denunciado pelo Ministério Público por render e torturar psicologicamente sete policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Prazeres, morro onde William nasceu e sempre morou. Ao todo, 13 pessoas foram denunciadas pela ação criminosa, ocorrida em 20 de novembro. O rapaz foi acusado em abril por um PM que afirmou em depoimento tê-lo reconhecido por meio de fotos.
Nas redes sociais, William aparece em fotos segurando armas. Desempregado, ele atuou como figurante em “Pacified”, filme gravado no morro durante o segundo semestre de 2017. Nas fotos, o rapaz posa ao lado de artistas como José Loreto, uma das estrelas do longa dirigido por Paxton Winters. Segundo a família, o rapaz, descrito como estudioso e caseiro, jamais teve armas nem sabe atirar. Durante o período em que atuou como figurante, aproveitou para tirar as fotos ao lado dos atores.
Na decisão em que determinou a prisão de William e outros 12 denunciados, a juíza Paula Fernandes Machado, da 5ª Vara Criminal do Rio, afirmou que “há fortíssimos indícios da prática dos delitos pelos acusados, como se infere das peças do procedimento policial que narra a dinâmica do evento criminoso, tendo sido (os acusados), inclusive, reconhecidos por fotografias pelas vítimas”.
Os pais de William – um porteiro e uma dona-de-casa – levaram o caso à associação de moradores do Morro dos Prazeres, e o advogado Vinícius Saldanha passou a cuidar do caso. Ele pediu à Justiça o relaxamento da prisão de William, mas ainda não houve resposta.
Foi lançado um abaixo-assinado pela libertação dele, que conta com mais de 500 assinaturas. Dois produtores do filme também emitiram nota classificando William como “cioso, talentoso, honesto e decente”, além de “estudioso, interessado e sem qualquer risco de violência em suas características pessoais”.
Em nota, a Polícia Civil afirmou que William “foi reconhecido pelas vítimas como um dos autores do fato. Ele foi indiciado no inquérito policial e denunciado pelo Ministério Público. William figura como réu na ação penal em curso e teve a prisão preventiva decretada pelo Poder Judiciário, após o recebimento da denúncia”.
Também procurado pela reportagem, o Ministério Público do Estado do Rio, responsável por denunciar William à Justiça, não havia se pronunciado até as 19h30.