Fichamento de turistas eleva tensão entre Brasil e EUA

O secretário de Estado americano, Colin Powell, disse ontem que se queixará pessoalmente a seu colega brasileiro, Celso Amorim, pelo sistema de controle de identidade imposto pelo Brasil aos cidadãos americanos, em represália a um programa semelhante implementado pelos EUA.

Colin Powell anunciou que quando falar com Amorim apresentará a preocupação dos Estados Unidos pelo que considera uma medida ?discriminatória? tomada pelo Brasil. ?Um juiz no Brasil discriminou os americanos, e logo estarei conversando com meu colega brasileiro sobre o assunto, disse Powell no departamento de Estado. Ele vai ouvir a mesma coisa de Amorim, em relação aos brasileiros.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, pediu na noite de anteontem à embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, Donna Hrinak, que os brasileiros, ao entrarem em território norte-americano, sejam liberados da identificação, como já acontece com cidadãos de outros 27 países. Celso Amorim ressaltou que a decisão da justiça brasileira de identificar os americanos usando a mesma tecnologia adotada pelos EUA foi baseada no critério de reciprocidade do direito internacional. Ou seja, provavelmente, a medida de segurança seria abandonada pelo Brasil caso os brasileiros fossem dispensados de procedimento semelhante nos guichês da imigração americana.

Uma nota oficial do Itamaraty diz que, na reunião com Hrinak, Celso Amorim ?assinalou que as principais preocupações do governo brasileiro neste tema são com a manutenção do alto nível das relações entre Brasil e Estados Unidos e, sobretudo, com a necessidade de assegurar tratamento condigno aos nacionais brasileiros que ingressam naquele país?.

Enquanto isso, o fichamento prossegue no Brasil. A chegada ontem do transatlântico ?Amsterdam? ao porto do Rio levou a Polícia Federal a reforçar o efetivo de agentes que trabalha no controle de passaportes. O navio, de bandeira holandesa, atracou por com 990 turistas, dos quais 600 americanos.

Dez agentes foram destacados para agilizar o processo de identificação dos passageiros norte-americanos, que foram fotografados e tiveram a impressão digital colhida.

EUA vão repatriar 1.100 brasileiros

A comissão externa do Congresso Nacional encarregada de acompanhar a situação dos brasileiros presos por imigração ilegal encerrou ontem as negociações com o governo norte-americano para trazer ao Brasil cerca de 1.100 brasileiros que respondem a processos na Justiça ou aguardam extradição para o Brasil.

O governo dos Estados Unidos concordou com a proposta da comissão que visita os presídios nos estados do Texas e Arizona, próximos à fronteira com o México.

De acordo com esta proposta, a cada 15 dias, 200 brasileiros que estão detidos naquele país serão repatriados em um vôo fretado e custeado pelo governo norte-americano. O custo de cada vôo pode chegar a aproximadamente 40 mil dólares (cerca de R$ 115 mil).

A comissão de parlamentares brasileiros depende agora de uma iniciativa do governo federal. ?Nós estamos agora para fazer os contatos com o Itamaraty, diretamente com o ministro Celso Amorim, e com o ministro Márcio Thomaz Bastos, da Justiça, para podermos finalizar os entendimentos do lado do governo brasileiro?, afirmou o senador Hélio Costa (PMDB-MG), que integra a comitiva também integrada pelo deputado João Magno (PT-MG) e o senador Marcelo Crivella (PL-RJ).

O senador Hélio Costa informou que serão necessários aproximadamente cinco vôos para trazer todos os brasileiros, porque a comitiva constatou que existem mais de 922 brasileiros presos. Segundo ele, a comitiva encerrou as negociações com o governo dos Estados Unidos, mas deverá continuar nesta quinta-feira, as visitas aos presídios dos Estados Unidos, onde encontram-se brasileiros detidos.

Hélio Costa disse ainda que a maioria dos brasileiros com os quais a comissão dos parlamentares brasileiros se encontrou quer voltar ao Brasil imediatamente e apenas três deles têm famílias nos Estados Unidos e, por esta razão, ainda querem continuar negociando com as autoridades americanas sua permanência naquele país para tentar trabalho.

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